Fim de uma Era: Colossal Order Deixa o Comando de Cities Skylines

Em um comunicado que abalou as fundações da comunidade de simuladores urbanos, a desenvolvedora Colossal Order e a publisher Paradox Interactive anunciaram o fim de sua parceria de mais de uma década, responsável pela aclamada franquia Cities. Segundo a nota oficial divulgada nesta segunda-feira, a decisão foi "mútua", com o desenvolvimento de Cities: Skylines II e o futuro da série sendo transferidos para o estúdio finlandês Iceflake, uma subsidiária da própria Paradox. A transição ocorre após o lançamento problemático de Skylines II, marcado por problemas de performance que frustraram jogadores e críticos.

Uma Separação "Mútua" com Histórico Conturbado

A lógica de mercado é implacável. Se uma parceria funciona, ela continua. Se ela termina, é porque uma ou mais variáveis na equação deixaram de ser favoráveis. No comunicado oficial, publicado nos fóruns da Paradox, a publisher e a desenvolvedora Colossal Order afirmam que "decidiram mutuamente seguir caminhos independentes". A declaração, polida e corporativa, alega que a decisão foi "tomada de forma ponderada e no interesse de ambas as equipes".

Contudo, para qualquer analista que acompanhou a trajetória recente da franquia, é impossível desassociar esta "separação amigável" do lançamento problemático de Cities: Skylines II em 2023. O jogo, aguardado como o sucessor definitivo do gênero, chegou ao mercado com graves problemas de performance e uma notável ausência do prometido suporte a mods, um pilar da comunidade do primeiro jogo. A reação foi tão negativa que, conforme relatado pela Ars Technica, a Paradox teve que se desculpar publicamente, oferecendo DLCs gratuitas como um pedido de desculpas e prometendo "fazer melhor".

Relembrando uma entrevista de 2023 para a Ars Technica, a CEO da Colossal Order, Mariina Hallikainen, afirmou na época: "Temos lutado ao longo de todo este projeto [com os problemas de performance], temos feito o nosso melhor para corrigi-los. E continuaremos a corrigi-los". A declaração, que na época soava como um compromisso de longo prazo, hoje parece um presságio do fim. O fato é que, apesar das atualizações, como a recente expansão "Bridges and Ports", o progresso foi mais lento do que a comunidade esperava. Aparentemente, a paciência da Paradox chegou ao limite.

A Nova Gestão da Metrópole Digital

Com a saída da Colossal Order, quem assume o canteiro de obras de Cities: Skylines? A resposta é o estúdio finlandês Iceflake Studios. Se esse nome não soa familiar, há uma razão lógica para isso. A Iceflake é uma subsidiária da própria Paradox Interactive, adquirida em 2020. A manobra, portanto, mantém o controle da propriedade intelectual firmemente dentro do ecossistema da publisher, uma decisão estratégica para proteger um de seus ativos mais valiosos.

A Iceflake é conhecida pelo jogo de estratégia e sobrevivência pós-apocalíptico, Surviving the Aftermath. Embora o jogo tenha um público dedicado, a transição para um simulador de cidades complexo e com uma base de fãs exigente é um desafio de outra magnitude. Em um FAQ que acompanha o anúncio, a Paradox tenta tranquilizar os jogadores, afirmando que "a identidade central de Cities: Skylines II permanecerá inalterada". A publisher garante que a Iceflake possui "forte experiência em jogos de simulação e construção de cidades" e a "paixão necessária para assumir o desenvolvimento".

As responsabilidades da Iceflake são extensas. Conforme o comunicado, o estúdio já está "trabalhando duro para entrar nos detalhes de Cities: Skylines II". A partir do início de 2026, eles serão os únicos responsáveis por todas as futuras atualizações gratuitas, expansões e pacotes de conteúdo. Além disso, uma tarefa pendente e de alta prioridade cairá em seu colo: o desenvolvimento das versões para console de Skylines II, que foram adiadas indefinidamente desde o lançamento original para PC.

O Último Ato da Colossal Order

O mandato da Colossal Order não termina de forma abrupta. Antes de entregar as chaves da cidade, a equipe finalizará um último projeto: a muito aguardada atualização "Bike Patch". Após a entrega deste patch, o estúdio que por mais de uma década foi a principal referência no gênero, revitalizando um espaço deixado vago pelo tropeço da franquia SimCity da EA, estará livre para "trabalhar em novos projetos e explorar novas oportunidades criativas".

Para os fãs e para a indústria, o legado da Colossal Order é inegável. Eles não apenas criaram um sucessor espiritual para um gênero clássico, mas o expandiram de formas que definiram uma geração. A separação, embora compreensível do ponto de vista de negócios, marca o fim de uma era. A questão que permanece é se esta mudança de comando será o catalisador que Cities: Skylines II precisa para atingir seu potencial ou se será apenas uma troca de cadeiras em uma administração já conturbada.

Conclusão: Um Futuro em Construção

A decisão de romper com a Colossal Order e internalizar o desenvolvimento de Cities: Skylines sob a asa da Iceflake é um movimento ousado da Paradox Interactive. É uma aposta calculada de que uma nova equipe, com uma nova perspectiva e sob controle direto, pode resolver os problemas que assolaram o lançamento de Skylines II e guiar a franquia para o futuro. A comunidade, por sua vez, observa com ceticismo e esperança. A promessa de manter a identidade do jogo intacta será testada a cada nova atualização. Se a nova gestão conseguirá ou não transformar a promessa em um fato verificável (true), é algo que apenas os futuros planejadores urbanos virtuais poderão confirmar.