Processador é de redstone: Dev cria uma IA que conversa de verdade dentro do Minecraft

Em um mundo onde a inteligência artificial evolui em supercomputadores de silício, um desenvolvedor nos lembra que a próxima grande revolução pode vir do lugar mais inesperado: um universo de blocos. O YouTuber e engenheiro de software conhecido como Sammyuri acaba de apresentar ao mundo o CraftGPT, uma IA conversacional que não apenas roda, mas vive dentro de um computador colossal construído inteiramente em Minecraft. É a fusão da engenharia de software com a arquitetura digital, um feito que parece saído diretamente de uma obra de ficção científica.

O Computador de Redstone que Pensa

Esqueça os data centers climatizados. O hardware do CraftGPT é composto por 439 milhões de blocos, meticulosamente posicionados para formar um processador funcional. Segundo os detalhes compartilhados por Sammyuri, a estrutura ocupa um espaço virtual de 1020x260x1656 blocos. Para se ter uma ideia, é como construir um cérebro digital do tamanho de um arranha-céu dentro de um jogo. Cada bloco de redstone atua como um componente eletrônico, formando desde tokenizadores até complexos multiplicadores de matrizes, as peças fundamentais que permitem a uma IA processar linguagem.

Este monstro de redstone possui uma memória de quase 6 megabytes e opera com um modelo de linguagem de mais de 5 milhões de parâmetros. Parâmetros, no mundo das IAs, são como os "ajustes internos" ou sinapses que a rede neural usa para aprender e tomar decisões. É a complexidade desses parâmetros que permite ao CraftGPT formar frases e responder a perguntas, transformando um amontoado de blocos em algo com uma centelha de cognição.

Treinando um Cérebro Digital com Paciência de Monge

Construir o hardware foi apenas metade da batalha. Para dar vida ao CraftGPT, Sammyuri treinou o modelo em Python, utilizando um conjunto de dados chamado TinyChat, que, como o nome sugere, contém diálogos curtos e básicos em inglês. O objetivo não era criar um rival para o GPT-4, mas provar que era possível. O modelo final possui um vocabulário de 1.920 tokens e uma janela de contexto de apenas 64 tokens, o que significa que sua "memória" de curto prazo é extremamente limitada, capaz de se lembrar apenas dos últimos fragmentos da conversa.

E a performance? Bem, aqui a realidade do hardware de redstone se impõe. Mesmo utilizando o MCHPRS (Minecraft High Performance Redstone Server) para acelerar a taxa de processamento do jogo em 40 mil vezes, o CraftGPT leva, em média, duas horas para gerar uma única resposta. É uma demonstração fascinante das limitações físicas (ainda que virtuais) do seu ambiente. Como o próprio desenvolvedor alerta, os usuários não devem esperar coerência perfeita; a IA pode gerar respostas gramaticalmente incorretas ou até mesmo divagar sobre assuntos aleatórios. Mas o fato é que ela responde.

O Fantasma na Máquina de Blocos

A prova de conceito é impressionante. No vídeo de demonstração, quando questionado sobre a cor do céu, o CraftGPT responde: "o céu é azul claro, e o céu é muito bonito". Ao receber um pedido de sugestão de atividades, ele oferece: "Que tal um piquenique? Convide alguns amigos para aproveitar o sol e o ar fresco". São respostas simples, mas geradas por uma máquina feita de poeira vermelha virtual.

Para colocar em perspectiva, o modelo é cerca de 23 vezes menor que o GPT-1, a primeira versão lançada pela OpenAI em 2018. Um usuário nos comentários do vídeo resumiu o sentimento da comunidade: "Há apenas cerca de 20 anos, um modelo de linguagem como este teria sido tecnologia de ponta no mundo real. O fato de uma construção de redstone ter conseguido rivalizar com alguns desses projetos... é uma prova de quão longe chegamos".

O Futuro é um Jogo de Construir?

O projeto de Sammyuri é mais do que uma curiosidade técnica para a comunidade de Minecraft. É um exercício de futurologia que nos força a repensar onde a computação pode acontecer. Se é possível criar uma mente funcional a partir de blocos em um jogo, o que nos impede de, no futuro, utilizar substratos biológicos ou materiais programáveis para criar novas formas de inteligência? O CraftGPT nos mostra que a arquitetura da informação não está presa ao silício. Hoje, é redstone. Amanhã, pode ser qualquer coisa. Estamos testemunhando os primeiros passos não apenas para IAs mais inteligentes, mas para IAs que podem existir nos lugares mais improváveis, borrando de vez a linha entre o código e o mundo que ele simula.