O Ecossistema de Silksong: A Diplomacia da Velocidade e o Protocolo do Segredo
Parece que o reino de Pharloom mal abriu suas portas e já existem dois tipos de cidadãos: os que exploram cada canto e sofrem com seus desafios, e os que tratam o mapa como uma supervia expressa. Lançado no início de setembro, o aguardado Hollow Knight: Silksong já é palco de uma disputa frenética, com speedrunners demolindo o game em tempos que parecem impossíveis para a maioria. Enquanto muitos ainda aprendem a usar o arsenal de Hornet, outros já viram os créditos subirem várias vezes.
A Corrida Pelo Trono: A API da Velocidade
A comunidade de speedrunners não perdeu tempo. Eles encaram o design do jogo não como uma barreira, mas como um sistema a ser otimizado, quase como se estivessem buscando a chamada de API mais eficiente para chegar ao final. Segundo o portal Canaltech, nomes como o speedrunner Onaku já registraram finalizações em 79 minutos. Seu concorrente, BlueSR, foi além, estabelecendo um tempo impressionante de 77 minutos. É uma verdadeira conversa em alta velocidade entre jogador e código, onde cada pulo e ataque é uma linha de comando perfeitamente executada.
Essa corrida, por enquanto, acontece de maneira extraoficial em plataformas como o YouTube. A validação e organização desses feitos ocorrerá a partir de 1º de outubro, quando o site Speedrun.com, a grande autoridade no assunto, abrirá o ranking oficial para Hollow Knight: Silksong. Até lá, a disputa pelo recorde mundial continua acirrada nos bastidores.
Para os Meros Mortais: Uma Jornada de 22 Horas
Do outro lado desse ecossistema, temos a vasta maioria dos jogadores. De acordo com os dados registrados manualmente no site HowLongtoBeat, o tempo médio para concluir a campanha principal de Silksong é de 22 horas. Para aqueles que buscam a platina, os chamados complecionistas, a jornada se estende para cerca de 47 horas e 30 minutos. Colocar os 77 minutos dos speedrunners ao lado dessas 22 horas evidencia o abismo que separa os jogadores de elite dos exploradores casuais.
Grande parte dessa diferença de tempo se deve à notória dificuldade do jogo, um ponto que já gera intensos debates. Assim como acontece com os lançamentos da FromSoftware, a complexidade de Silksong divide opiniões. A Team Cherry parece ter elevado o desafio em relação ao primeiro jogo, com inimigos de padrões mais complexos e chefes que punem severamente qualquer erro. Em contrapartida, o arsenal de Hornet é mais vasto, oferecendo um novo conjunto de ferramentas e armadilhas. É como se o jogo entregasse uma SDK mais poderosa, mas exigisse que o jogador aprendesse a programar suas próprias soluções para sobreviver.
O Protocolo Secreto: Desbloqueando o Ato 3
Enquanto a corrida pela velocidade domina os holofotes, uma busca mais silenciosa e metódica acontece nas sombras: a caça aos segredos mais profundos de Pharloom. E o maior deles, conforme detalhado pelo portal Omelete/Chippu, é a existência de um terceiro ato inteiro, escondido após os créditos do que parece ser o final do jogo.
Acessar esse conteúdo é uma verdadeira operação de interoperabilidade entre sistemas de quests. Não basta terminar o jogo; é preciso estabelecer uma conexão profunda com seu universo. O processo exige que os jogadores completem todas as 48 missões principais e paralelas. Só então a missão 'Viajante da Seda e da Alma' é desbloqueada, funcionando como a chave de acesso para o verdadeiro final.
A partir daí, a jornada se assemelha a uma complexa negociação diplomática para obter as credenciais certas. É preciso encontrar o Guardião em Cantoclave e reunir quatro itens essenciais:
- Alma da Dama
- Alma do Eremita
- Alma de Colecionador
- Aranhol
Cada item é um token de autenticação, obtido em diferentes partes do mapa, muitas vezes escondido atrás de paredes secretas ou após derrotar chefes. Com todos os itens em mãos, o jogador retorna ao Guardião para uma escolha final: 'Derrotar a Monarca Pálida' ou 'Destruir a Teia de Almas'. A segunda opção é o endpoint que leva ao Ato 3, ambientado no misterioso Abismo, e ao verdadeiro final, chamado 'Irmã do Vazio'. É a recompensa máxima para quem trata o jogo não como uma corrida, mas como um grande sistema a ser decifrado.
Dois Mundos, Um Reino
Após oito anos de desenvolvimento, Hollow Knight: Silksong se prova um fenômeno. Ele foi arquitetado para ser um ecossistema robusto, que atende a diferentes perfis de jogadores de forma simultânea e brilhante. De um lado, temos uma plataforma otimizada para a performance, onde a velocidade é a métrica de sucesso. Do outro, um labirinto de segredos e lore, que recompensa a paciência e a exploração. A coexistência desses dois mundos prova que a Team Cherry não criou apenas um jogo, mas um universo rico e interconectado, cujo legado já está sendo escrito, seja em 77 minutos ou em 47 horas.
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