Um Criador Inquieto: O Fim de um Ciclo?

Em um movimento que só poderia vir de uma mente como a de Hideo Kojima, o lendário diretor de jogos revelou que o conceito para um possível Death Stranding 3 já está escrito. A declaração, feita durante a passagem da Death Stranding 2: World Strand Tour por Riade, na Arábia Saudita, pegou a todos de surpresa, especialmente porque a poeira de Death Stranding 2: On the Beach mal assentou. Mas, como um artista que pinta uma obra sobre a outra, Kojima já parece estar em um novo horizonte criativo.

Contudo, a grande reviravolta não é a existência do conceito, mas a intenção por trás dele. Segundo o próprio Kojima, este é um projeto que ele não planeja dirigir. “Eu não planejo fazer isso agora, porque o final de Death Stranding 2 é meu encerramento para o 1 e 2”, afirmou, conforme noticiado pelo Canaltech. Sua visão para a duologia está completa, um arco fechado. “Porém, eu já escrevi o conceito de Death Stranding 3, então tenho dados sobre ele. Espero que alguém possa criá-lo por mim”. A frase ecoa não como um abandono, mas como um convite. Para quem seria este convite? E que forma tomaria um universo tão autoral nas mãos de outro criador?

Legado e Imortalidade Digital

A decisão de Kojima não parece ser um capricho momentâneo, mas parte de uma reflexão mais profunda sobre seu próprio legado e a finitude da vida. Ele já havia expressado anteriormente sua preocupação com o futuro da Kojima Productions após sua partida. É uma questão que assombra muitos criadores: o que acontece com a criação quando o criador se vai? Em uma declaração citada pelo Canaltech, Kojima revelou um plano quase poético para garantir a continuidade de suas ideias.

“Eu dei um pen drive com todas as minhas ideias para meu assistente pessoal, como um testamento. Desta forma, eles podem continuar fazendo as coisas na Kojima Productions depois que eu me for”, disse ele. Esta não é apenas uma preocupação empresarial; é a angústia de um artista que teme ver seu estúdio se transformar em um mero gerenciador de franquias existentes. Ao abrir mão da direção de Death Stranding 3, Kojima pode estar testando as águas, ensinando seu universo a caminhar com as próprias pernas, a se conectar com outras mentes criativas. Seria este o primeiro passo para garantir que suas histórias se tornem verdadeiramente imortais?

O Multiverso de Kojima: Além das Praias

A vontade de delegar a direção de um novo Death Stranding também se justifica pela agenda cheia do diretor. Seu universo criativo está em plena expansão, se ramificando em projetos distintos e ambiciosos. Entre eles, destacam-se:

  • OD (Overdose): Um enigmático projeto de terror, exclusivo para o ecossistema Xbox, que promete borrar as linhas entre jogo e filme.
  • Physint: Seu aguardado retorno ao gênero de espionagem, uma espécie de sucessor espiritual de sua obra-prima, Metal Gear Solid, mas agora sob sua total liberdade criativa.
  • Adaptação Cinematográfica de Death Stranding: Uma parceria com o aclamado estúdio A24, que levará o mundo pós-apocalíptico de Sam Porter Bridges para as telonas, com direção de Michael Sarnoski.

Com tantas novas fronteiras para explorar, faz sentido que Kojima queira ser mais um arquiteto do que um construtor em todos os seus mundos. Ele planta as sementes conceituais e confia em outros talentos para cultivá-las.

Um Novo Tipo de Conexão

A notícia de um Death Stranding 3 conceitualizado, mas órfão de um diretor, nos deixa com mais perguntas do que respostas, algo bem típico do próprio Kojima. Estamos testemunhando a transição de um autor para um curador de seu próprio legado? A franquia, que tem a conexão como seu tema central, está prestes a vivenciar sua própria metanarrativa, conectando-se a um novo diretor e, talvez, a uma nova geração de jogadores. Resta saber se essa nova conexão manterá a frequência e a estranheza que tornaram a obra de Kojima tão singular, ou se um novo portador dará à luz algo inteiramente novo a partir das cinzas de um mundo que aprendemos a reconectar.