Sustos Reais: Dead Take usa atores para criar um terror mais profundo
Na era dos gráficos ultrarrealistas e dos mundos abertos gerados por procedimentos complexos, um novo jogo de terror ousa olhar para o passado para encontrar o futuro do medo. Dead Take, o mais recente lançamento do Surgent Studios (conhecido por Tales of Kenzera: Zau), chegou ao Steam com uma proposta que parece ter saído diretamente de uma cápsula do tempo dos anos 90: usar atores de carne e osso para contar sua história. O game troca os monstros poligonais e os sustos programados pela imprevisibilidade aterrorizante da performance humana, utilizando a tecnologia de Full Motion Video (FMV) para criar uma experiência que, segundo a crítica especializada do portal The Verge, atinge um nível de pavor genuinamente perturbador.
O Retorno do Rei: A Magia do FMV
Para os mais novos no mundo dos games, o termo FMV pode soar como uma sigla arcana. No entanto, para um arqueólogo digital como eu, ele evoca a era dos LaserDiscs e dos primeiros CD-ROMs, quando os desenvolvedores sonhavam em fundir cinema e videogame. A tecnologia Full Motion Video consiste em usar vídeos pré-gravados com atores reais como o principal meio de narrativa. Se no passado a técnica era limitada pela compressão de vídeo e orçamentos modestos, Dead Take a resgata com uma produção de alta qualidade e um propósito claro: provar que o rosto de um ator em desespero pode ser mais assustador do que qualquer criatura feita em computação gráfica.
A estrutura do jogo é uma combinação inteligente do antigo e do novo. De acordo com a análise do The Verge, a jogabilidade mistura exploração de ambientes e resolução de quebra-cabeças no melhor estilo Resident Evil com uma narrativa entregue quase que inteiramente por meio desses vídeos. O jogador não é um mero espectador; a mecânica central envolve encontrar trechos de vídeos — audições, entrevistas, mensagens pessoais — e usar uma ferramenta de edição com IA para "remixá-los", criando novas cenas que revelam segredos da trama e soluções para os puzzles. É uma forma engenhosa de transformar o jogador no editor da própria história de terror que está desvendando.
Hollywood: A Verdadeira Mansão Assombrada
A trama de Dead Take nos coloca na pele de Chase Lowry, um ator interpretado pelo talentoso Neil Newbon (conhecido por seu trabalho em Baldur's Gate III). Chase está em busca de seu amigo desaparecido, Vinnie Monroe, vivido por Ben Starr (de Final Fantasy XVI). A busca o leva à mansão sinistra de Duke Cain (Abubakar Salim), um poderoso produtor de Hollywood que parece ser a chave para o sucesso ou a ruína de qualquer aspirante a estrela. O tema central, como apontado pelo The Verge, não é um fantasma ou um monstro, mas algo muito mais real: a ambição desenfreada e o que uma pessoa está disposta a fazer pela fama.
Ao longo da jornada pela mansão, o jogador assiste à dolorosa transformação de Vinnie. Ele está desesperado por um papel no próximo grande filme de Duke Cain, uma fome que o consome a ponto de se tornar irreconhecível. Em uma das cenas descritas na crítica, Vinnie chega a insultar brutalmente seu amigo Chase durante uma chamada, temendo que a interrupção possa custar-lhe a oportunidade de sua vida. É esse mergulho na psique de um homem à beira do abismo que forma o núcleo do horror do jogo.
A Atuação Como Arma de Terror
Onde muitos jogos de terror confiam no jumpscare — o susto rápido e fácil —, Dead Take constrói sua tensão de forma diferente. A fonte do medo mais profundo, segundo o The Verge, não vem de portas batendo ou sombras se movendo, mas das atuações. A crítica é categórica ao afirmar: "Ben Starr é a coisa mais assustadora neste jogo". Em uma cena de audição particularmente intensa, Starr explode em um acesso de raiva contra sua colega de cena, um momento tão visceral e realista que a análise o compara à famosa fúria de Christian Bale em um set de filmagem. É um tipo de pavor que ressoa em um nível pessoal, evocando memórias de encontros com a violência real.
A publicação destaca que ver atores de carne e osso atuando é muito mais envolvente do que ouvir suas vozes em corpos poligonais. Mesmo tendo elogiado as performances de Newbon e Starr em seus respectivos jogos de fantasia, o artigo aponta que vê-los atuar com o corpo inteiro, com todas as microexpressões e a linguagem corporal, eleva a experiência a "outro nível". O medo não vem do que pode saltar na sua frente, mas da lenta e angustiante erosão da humanidade de um personagem, testemunhada em primeiro plano.
Um Respiro Cômico no Meio do Pavor
Apesar da atmosfera pesada, Dead Take também sabe como aliviar a tensão. O jogo conta com participações especiais que trazem um humor bem-vindo. Uma delas é a de Sam Lake, a mente (e o rosto) por trás da série Alan Wake, que interpreta um diretor de cinema decadente em uma cena hilária. Além disso, a própria premissa dos sotaques gera momentos de leveza: Neil Newbon e Ben Starr, ambos britânicos, interpretam atores americanos que, por sua vez, estão fingindo ter um sotaque sulista para um papel. De acordo com o The Verge, as ocasionais falhas nessa tripla camada de atuação resultam em momentos genuinamente engraçados.
No final das contas, Dead Take se destaca por sua coragem. Em um mercado saturado de fórmulas, o Surgent Studios apostou em uma tecnologia vista por muitos como uma relíquia para criar uma das experiências de terror mais originais dos últimos tempos. Como conclui a crítica do The Verge, sem o FMV, o jogo seria apenas "bom, mas esquecível". Com ele, torna-se uma prova poderosa de que, na busca por nos assustar, a tecnologia mais eficaz pode não ser um novo motor gráfico, mas a janela mais antiga que temos para a alma: o rosto humano. O jogo já está disponível no Steam para quem tiver coragem de encarar esse novo tipo de horror.
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