A Febre do Silício: IA Causa Boom Histórico no Mercado de Hardware

Se a Inteligência Artificial é a nova corrida do ouro, os fabricantes de hardware estão vendendo pás e picaretas a preços exorbitantes. Dados recém-divulgados pela International Data Corporation (IDC) mostram que o terceiro trimestre de 2025 foi simplesmente monumental para a infraestrutura de tecnologia. O mercado mundial de servidores atingiu a receita recorde de US$ 112,4 bilhões, um salto de 61,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Simultaneamente, o mercado de switches Ethernet cresceu 35,2%, alcançando US$ 14,7 bilhões. O motivo? Uma fome aparentemente infinita por poder de processamento para alimentar os modelos de IA que estão redefinindo o mundo digital.

A Fome Insaciável da IA por GPUs

O coração dessa explosão de investimentos está nos servidores equipados com aceleradores, principalmente GPUs (Graphics Processing Units). Segundo o relatório da IDC, a receita de servidores com GPUs embarcadas cresceu 49,4% ano a ano, representando mais da metade de toda a receita do mercado. Hyperscalers e provedores de serviços em nuvem estão liderando essa onda de aquisições, construindo data centers com densidades de computação cada vez maiores para treinar e executar modelos de IA complexos.

O relatório aponta que apenas nos três primeiros trimestres de 2025, o mercado de servidores quase dobrou de tamanho em comparação com 2024, acumulando uma receita de US$ 314,2 bilhões. “A IDC espera que a adoção de IA continue crescendo em um ritmo excepcional, à medida que os principais fornecedores continuam a relatar pedidos recordes e mostram fortes carteiras de pedidos”, afirmou Juan Seminara, diretor de pesquisa da IDC. Embora os servidores baseados em arquitetura x86 ainda sejam relevantes, com um crescimento de 32,8%, o destaque fica para os servidores Non-x86, que viram sua receita explodir em 192,7%, impulsionados por CPUs baseadas em ARM e outras arquiteturas customizadas para IA.

A Diplomacia dos Dados: Switches como Embaixadores da Velocidade

De que adianta ter nações poderosas (servidores de IA) se elas não conseguem conversar entre si de forma eficiente? A interoperabilidade é a chave, e é aqui que o mercado de switches entra em cena, atuando como o corpo diplomático que garante a comunicação fluida e veloz. O crescimento de 35,2% neste setor, também reportado pela IDC, é um reflexo direto da necessidade de interconectar milhares de GPUs.

O segmento de data center foi o grande protagonista, com um aumento de 62,0% na receita. A demanda é por velocidade, muita velocidade. As vendas de switches de 200/400 GbE cresceram 97,8% e já representam 43,9% da receita do segmento. Mas a nova fronteira são os switches de 800 GbE, cujas receitas subiram 91,6% apenas em relação ao trimestre anterior. Essa infraestrutura de rede de altíssima largura de banda e baixa latência é fundamental para que os clusters de IA operem sem gargalos, permitindo que os dados fluam livremente entre os nós de processamento.

Os Titãs e os Bastidores: Quem Vence a Corrida do Hardware?

No pódio dos fabricantes de servidores, a Dell Technologies mantém a liderança entre os OEMs tradicionais, com 8,3% de participação de mercado. No entanto, a história mais interessante acontece nos bastidores. A categoria “ODM Direct” — fabricantes que produzem hardware diretamente para os gigantes da nuvem como Amazon, Google e Microsoft — viu sua receita crescer absurdos 112,2% e agora domina 59,4% de todo o mercado. Isso demonstra que os hyperscalers estão cada vez mais ditando as regras, encomendando designs customizados em uma escala massiva.

No universo dos switches, a Cisco ainda lidera com 29,8% de participação, mas competidores como Arista Networks e, notavelmente, a NVIDIA, estão ganhando terreno rapidamente. A NVIDIA, que se tornou sinônimo de computação para IA, viu sua receita de switches crescer 167,7% em um ano, solidificando sua posição como um player essencial no ecossistema de data centers para IA.

Uma Bolha de Silício? A Sustentabilidade do Investimento

Os números são tão impressionantes que levantam uma questão inevitável, ecoada por analistas do setor: este nível de gastos é sustentável? O portal The Next Platform coloca em perspectiva ao comparar o atual boom com a bolha das empresas “.com” no final dos anos 90. A conclusão é que a magnitude do investimento atual é uma ordem de grandeza maior. Se naquela época um trimestre de US$ 13 bilhões em vendas de servidores era o pico, hoje falamos em mais de US$ 112 bilhões.

A grande dúvida é se o retorno sobre o investimento em GenAI se materializará com a rapidez e a escala necessárias para justificar essa infraestrutura colossal. Há mais empresas construindo e esperando do que, de fato, coletando receitas que superem os investimentos. Estaríamos testemunhando a construção de uma fundação sólida para a próxima era da computação ou inflando uma bolha que pode sofrer uma correção severa quando a euforia inicial diminuir?

Por enquanto, a corrida continua a todo vapor. O diálogo entre poder de computação e conectividade de rede nunca foi tão intenso. O futuro da Inteligência Artificial está sendo escrito não apenas em linhas de código, mas também nos bilhões de dólares investidos em silício, cobre e fibra óptica que formarão o sistema nervoso da nova economia digital. Resta saber se o cérebro (software) conseguirá gerar valor suficiente para pagar a conta de seu corpo (hardware).