A Rebelião da IA na Meta: Código Fechado, Tempero Chinês e uma Guerra Interna
A lógica de programação da Meta parece ter entrado em um loop de erro fatal. Se a empresa, sob a batuta de Mark Zuckerberg, defendia com fervor que o futuro da Inteligência Artificial era o código aberto, então a família de modelos Llama era a prova irrefutável de sua tese. Acontece que, em algum ponto de 2025, essa condição retornou como "falso". O resultado é uma reescrita completa do código-fonte estratégico da companhia, uma aposta em um modelo fechado e uma crise interna que expõe a fratura entre o idealismo de ontem e a necessidade de competir hoje.
A Profecia Falhou: O Fiasco do Llama 4
O ponto de inflexão tem data e nome: abril de 2025, lançamento do Llama 4. Segundo fontes como a Bloomberg e a CNBC, a recepção foi, para ser gentil, decepcionante. Benchmarks fracos e críticas da comunidade de desenvolvedores abalaram a narrativa de que a Meta liderava a vanguarda do open source. A confiança foi tão abalada que surgiram suspeitas de que a empresa havia testado publicamente versões superiores às que de fato disponibilizou para download.
A consequência foi imediata. A resposta de Zuckerberg foi descartar o projeto em favor de algo novo. Nasce assim o projeto de codinome "Avocado", um modelo de IA de fronteira previsto para o primeiro trimestre de 2026. A principal diferença? Ele será proprietário. Em um memorando de 30 de julho, citado pelo The Verge, o próprio Zuckerberg sinalizou a mudança de rumo, afirmando que a Meta precisaria ser "cuidadosa sobre o que escolhemos abrir". A era da partilha parece ter chegado ao fim.
O Tempero Secreto do Avocado: Made in China
Aqui, a trama ganha contornos geopolíticos que beiram a ironia. De acordo com a Bloomberg, o TBD Lab, grupo de elite da Meta que desenvolve o Avocado, está utilizando modelos externos em seu treinamento. Entre eles, está o Qwen, um dos sistemas mais avançados da China, desenvolvido pelo Alibaba. Se Zuckerberg passou anos alertando sobre os riscos de modelos chineses e sua suposta "influência ideológica", então a decisão de usar a tecnologia do Alibaba para treinar seu modelo mais estratégico é, no mínimo, uma contradição monumental.
O pragmatismo falou mais alto que o discurso. O mercado financeiro reagiu instantaneamente à notícia: as ações da Meta caíram 1,2%, enquanto as do Alibaba subiram 2%. A fronteira tecnológica entre EUA e China, aparentemente, é bastante permeável quando a corrida pela supremacia em IA está em jogo.
Uma Guerra Fria Interna: Superinteligência Divina vs. O Feed do Instagram
A mudança de estratégia detonou uma bomba cultural dentro da empresa. Para liderar a nova fase, Zuckerberg não promoveu talentos internos; ele foi às compras. A Meta investiu impressionantes US$ 14,3 bilhões para adquirir uma participação na Scale AI e trazer seu fundador, Alexandr Wang, de 28 anos, como novo Chefe de IA. Wang agora lidera o TBD Lab, uma unidade descrita como "siloed" pela CNBC, que opera como uma startup isolada perto do escritório de Zuckerberg, sequer utilizando o Workplace, a rede social interna da Meta.
O conflito, relatado por fontes internas ao TabNews e à CNBC, é fundamental. De um lado, Wang e sua equipe de "superestrelas" da IA, que incluem o ex-CEO do GitHub, Nat Friedman, buscam criar uma "superinteligência de IA divina", focados em alcançar e superar os modelos da OpenAI e do Google. Do outro, executivos veteranos como o Chefe de Produto Chris Cox e o CTO Andrew Bosworth, que defendem que os recursos de IA deveriam ser usados para o que paga as contas: otimizar os feeds e a publicidade do Facebook e do Instagram. A falha do Llama 4, inclusive, custou a Cox a supervisão da divisão de IA.
Baixas no Campo de Batalha: A Partida de Yann LeCun
Toda guerra tem suas baixas, e esta não foi exceção. A reestruturação colocou Yann LeCun, um dos "pais" do deep learning e cientista-chefe de IA da Meta, sob a liderança do recém-chegado Alexandr Wang. A situação tornou-se insustentável. Poucas semanas após a mudança e depois de uma onda de demissões que atingiu sua unidade de pesquisa (FAIR), LeCun pediu demissão. Segundo os relatos, ele planeja lançar sua própria startup ainda em 2025. A saída de uma figura tão emblemática é um golpe simbólico e técnico para a Meta.
Conclusão: Um Pragmatismo de US$ 72 Bilhões
A reviravolta da Meta não é barata. A empresa elevou sua previsão de despesas de capital (CAPEX) para 2025 para a faixa de US$ 70 a 72 bilhões, um número astronômico. O objetivo é claro: alcançar o Google Gemini e os modelos da OpenAI. O Avocado não é apenas um novo modelo de IA; é a personificação de uma Meta movida pelo medo de se tornar irrelevante. O Zuckerberg idealista do código aberto deu lugar a um CEO pragmático que está disposto a abandonar seus próprios dogmas, contratar exércitos de talentos a peso de ouro e até mesmo usar tecnologia da rival China para não ficar para trás. A lógica é simples: se não podemos vencer com nossa filosofia, então mudamos a filosofia. Custe o que custar.
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