JetBrains Oficializa o Fim do Fleet e Aposta Tudo em 'Air', sua Nova Ferramenta de Desenvolvimento com IA
A JetBrains, conhecida por seu robusto ecossistema de ferramentas para desenvolvedores, anunciou uma decisão definitiva: seu IDE Fleet, lançado em 2021 com a promessa de competir no mesmo ringue que o Visual Studio Code, será descontinuado. A partir de 22 de dezembro de 2025, o produto não estará mais disponível para download. A empresa está redirecionando recursos e foco para uma nova aposta chamada 'Air', um ambiente de desenvolvimento 'agêntico' que propõe uma mudança fundamental na forma como o código é criado.
A Crônica de uma Morte Anunciada
Lançado em 2021, o Fleet foi a tentativa da JetBrains de criar um IDE do zero, projetado para ser leve, colaborativo e com suporte nativo para projetos remotos. A pressão exercida pelo domínio do VS Code da Microsoft era evidente. No entanto, o Fleet nunca conseguiu sair do estágio de 'public preview', permanecendo em um limbo que gerou incerteza entre os desenvolvedores.
A lógica por trás da descontinuação, conforme explicado por Aleksey Stukalov, chefe do IntelliJ IDEA, e Ekaterina Prigara, gerente de produto, é direta. A empresa admitiu que manter duas famílias de IDEs gerou confusão e diluiu o foco. Em um comunicado, eles afirmaram: “Não conseguimos nem substituir o IntelliJ IDEA pelo Fleet, nem restringi-lo a um nicho claro e diferenciado”. Se a proposta era destronar o IntelliJ, falhou. Se era competir com o VS Code em um segmento específico, também falhou. O resultado foi um produto sem um propósito claro, esmagado entre o legado do ecossistema IntelliJ e a agilidade do seu rival da Microsoft.
Contudo, o esforço não foi totalmente perdido. A JetBrains ressalta que muitos componentes desenvolvidos para o Fleet foram incorporados em outros IDEs da casa, tratando o projeto como um experimento valioso, ainda que malsucedido em sua proposta original.
Olá, Air: O Desenvolvedor como Gerente de IA
O fim do Fleet não significa o fim da sua tecnologia. A plataforma servirá de base para o 'Air', a nova grande aposta da companhia. A proposta do Air é radicalmente diferente. Em vez de um ambiente onde o desenvolvedor escreve código, o Air implementa um fluxo de trabalho 'agêntico'. Na prática, isso significa que o desenvolvedor assume um papel de guia, orientando um agente de inteligência artificial e revisando o código que ele produz.
Atualmente, o Air está em fase de preview público e apresenta algumas condições de entrada:
- É totalmente compatível apenas com macOS, com suporte para Windows e Linux planejado para o futuro.
- Exige uma assinatura do serviço da Anthropic para funcionar.
- Planos futuros incluem a capacidade de rodar no navegador, a integração com outros modelos de IA (como Codex, Gemini e Junie) e um modo de execução em nuvem, onde o agente de IA continua trabalhando mesmo sem a presença do desenvolvedor.
Essa abordagem transforma o ato de programar em um diálogo estratégico, onde a habilidade de dar instruções claras e avaliar resultados se torna mais proeminente do que a digitação de código em si.
Uma Estratégia Recorrente e a Reação da Comunidade
Observando a trajetória da JetBrains, é possível identificar um padrão. Assim como o Fleet foi uma resposta direta ao surgimento do VS Code, o Air parece ser uma reação à nova onda de ferramentas de desenvolvimento baseadas em IA, como AWS Kiro, Google Antigravity e o próprio avanço do Copilot no ecossistema da Microsoft. Mais uma vez, a empresa opta por criar um produto do zero para acompanhar uma tendência de mercado.
A comunidade, no entanto, reage com ceticismo e alguma frustração. Desenvolvedores que haviam adotado e gostado do Fleet se mostraram desapontados. Um deles chegou a declarar que estava “oficialmente se divorciando da JetBrains”. Outros questionam a lógica da estratégia. Conforme apontado por um desenvolvedor, a dúvida que fica é: por que não “construir sobre os pontos fortes de seus IDEs poderosos e adicionar esses recursos de agente sobre o que já funciona?”. A criação de um produto totalmente novo, em vez de evoluir as ferramentas existentes, parece, para alguns, uma aposta arriscada e desnecessária.
A decisão da JetBrains coloca a empresa em uma nova corrida. O desafio de convencer os desenvolvedores a migrarem para o Fleet se mostrou grande demais. Agora, o desafio é ainda maior: convencê-los a mudar não apenas de ferramenta, mas de filosofia de trabalho. O sucesso do Air dependerá de provar que ser um 'gerente de IA' é, de fato, mais produtivo do que ser um programador com superpoderes de IA em seu IDE de confiança.
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