O que, exatamente, é uma "companhia aérea nativa de IA"?
A primeira pergunta que um analista deve fazer ao ler o termo "nativa de IA" é: isso é uma definição técnica ou uma peça de marketing? Segundo o comunicado oficial emitido pela IBM em 8 de dezembro de 2025, durante o evento IBM Think Riyadh, a resposta é uma mistura calculada de ambos. A Riyadh Air, uma nova companhia aérea saudita, está sendo construída do zero. Isso significa que ela não possui o que a indústria chama de "sistemas legados", ou seja, décadas de tecnologias diferentes, improvisadas e conectadas de forma precária. É uma folha em branco.
A proposição de valor, portanto, é lógica. Se você não precisa gastar tempo e recursos consertando sistemas antigos, então pode construir toda a sua operação sobre uma fundação moderna. Nesse caso, a fundação é a plataforma IBM watsonx Orchestrate. A ideia é usar inteligência artificial generativa e agentes autônomos para gerenciar praticamente todos os processos da empresa, desde a experiência do cliente até a eficiência operacional nos bastidores. Adam Boukadida, Diretor Financeiro da Riyadh Air, resumiu a escolha de forma direta: "Tínhamos uma escolha clara: ser a última companhia aérea construída com tecnologia legada ou a primeira construída nas plataformas que definirão a próxima década da aviação". A promessa de eliminar cinquenta anos de legado de uma só vez é, no mínimo, audaciosa.
A equação do voo: se a tripulação tem superpoderes, então o passageiro viaja melhor
Um dos pilares do projeto é a sincronização entre a experiência dos funcionários e a dos passageiros. A tese é que um funcionário bem equipado e informado presta um serviço superior. Para validar essa hipótese, a Riyadh Air implementará o que chama de "local de trabalho digital personalizado", movido por agentes de IA. Na prática, isso se traduz em um portal único, baseado em chat, para que os funcionários resolvam questões de RH e outras tarefas administrativas.
Para a tripulação de cabine e de solo, a promessa é ainda mais concreta. Aplicativos móveis equipados com IA funcionarão como um 'concierge' proativo. De acordo com a IBM, esses agentes de IA serão contextualmente cientes e capazes de propor as "próximas melhores ações". O exemplo fornecido é direto: se um passageiro está atrasado para o voo, o sistema pode notificar um funcionário no solo para oferecer um serviço de fast-track. A lógica é clara: se a equipe tem acesso a dados em tempo real e sugestões inteligentes, então o serviço deixa de ser reativo para se tornar preditivo e personalizado. O atendimento ao cliente seguirá a mesma linha, com bots de voz e assistentes de IA que fornecem dados contextuais aos agentes humanos, antecipando as necessidades dos viajantes.
Por trás das cortinas: eficiência como combustível para inovação
Enquanto a experiência do cliente é a vitrine, o verdadeiro motor da Riyadh Air, segundo o anúncio, será a eficiência operacional. Por ser uma empresa digitalmente virgem, ela não está presa a ganhos de produtividade incrementais. A IBM Consulting implementou um pacote de gerenciamento de desempenho empresarial que unifica dados financeiros, operacionais e comerciais de toda a organização.
Isso permite, teoricamente, automatizar processos de planejamento, orçamento e previsão, fornecendo análises em tempo real para apoiar decisões baseadas em dados. A premissa é um ciclo virtuoso: se você aumenta a eficiência e otimiza a rentabilidade das rotas com a ajuda da IA, então os recursos economizados podem ser reinvestidos em mais inovação. A IBM Consulting atuou como a orquestradora dessa visão, gerenciando 59 fluxos de trabalho e mais de 60 parceiros, incluindo nomes de peso como Adobe, Apple, FLYR e Microsoft, para executar a estratégia de ponta a ponta da companhia aérea.
Um plano de voo ambicioso para o futuro
Com os voos iniciais já em andamento e o primeiro serviço comercial programado para o início de 2026, a colaboração de três anos entre a Riyadh Air e a IBM atinge um ponto fundamental. O objetivo final é transformar a aviação e expandir a conectividade do Reino da Arábia Saudita para mais de 100 destinos, atendendo milhões de viajantes até 2030.
A proposta de criar uma companhia aérea 'nativa de IA' é um experimento fascinante. Ela testa a hipótese de que começar do zero é a única maneira de realmente inovar em um setor sobrecarregado por infraestruturas antigas. O veredito final, no entanto, não será dado por comunicados de imprensa ou eventos de tecnologia. Ele virá da experiência real dos passageiros, da pontualidade dos voos e da capacidade da empresa de cumprir as promessas de um serviço hiper-personalizado e eficiente. Até 2026, o status do projeto permanece como `true` na teoria, mas `pending` na prática.
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