HPE Cray une Nvidia e AMD no mesmo rack pela primeira vez

Em um movimento que pode ser considerado o fim de uma era de exclusividade nos data centers de alta performance, a Hewlett Packard Enterprise (HPE) anunciou sua nova plataforma de supercomputação, a Cray GX5000. A grande novidade, revelada pela empresa, é uma arquitetura que, pela primeira vez, permitirá que processadores e aceleradores gráficos das arquirrivais Nvidia e AMD convivam no mesmo rack refrigerado a líquido. Previsto para chegar ao mercado no início de 2027, o sistema promete ser um marco na forma como ecossistemas de Computação de Alto Desempenho (HPC) e Inteligência Artificial são construídos.

Uma Vizinhança de Silício: Bem-vindos ao Condomínio GX5000

Até hoje, montar um supercomputador era como escolher um time e se comprometer com ele. Se você optasse por CPUs AMD, geralmente levava junto as GPUs da mesma marca. O mesmo valia para o ecossistema da Nvidia. A HPE, no entanto, decidiu atuar como uma espécie de síndico diplomático com o Cray GX5000. A proposta é simples e poderosa: permitir que os clientes misturem e combinem diferentes "lâminas" (blades) de computação para criar a configuração mais eficiente e econômica para suas necessidades específicas. Será este o fim do casamento forçado por marca?

De acordo com os detalhes divulgados pela HPE, a plataforma oferecerá três tipos de "apartamentos" nesse condomínio tecnológico:

  • GX440n Accelerated Blade (Time Verde): Equipado com 4 CPUs Vera e 8 GPUs Rubin da Nvidia. O processador Vera, segundo a HPE, contará com 88 núcleos Arm personalizados, enquanto Rubin é a aguardada sucessora da arquitetura Blackwell. Um único rack poderá abrigar até 24 dessas blades, totalizando impressionantes 192 GPUs Rubin.
  • GX350a Accelerated Blade (Time Vermelho): Focada na AMD, esta lâmina combina uma CPU Epyc de 6ª geração, codinome "Venice", com 4 aceleradores Instinct MI430X. O processador Venice promete chegar com até 256 núcleos. Em um rack, será possível instalar até 28 dessas unidades, somando 112 aceleradores MI430X.
  • GX250 Compute Blade (Poder de Fogo em CPU): Para quem precisa de força bruta de processamento tradicional, esta blade acomoda oito processadores AMD Venice. Com até 40 dessas lâminas por rack, a densidade de processamento pode alcançar até 81.920 núcleos de CPU.

A Diplomacia dos Dados e o Apetite Energético

Mas como fazer com que componentes de famílias tão distintas conversem de forma harmoniosa? A resposta da HPE está no seu sistema de interconexão proprietário, o Slingshot. Funcionando como um tradutor universal de alta velocidade, a versão de 400 Gbps do Slingshot garantirá a comunicação fluida entre todas as lâminas, independentemente de serem baseadas em silício da Nvidia ou da AMD. Cada blade pode ser configurada com quatro ou oito portas Slingshot, garantindo que não haja gargalos de comunicação.

Toda essa capacidade de processamento, como era de se esperar, exige uma infraestrutura de energia robusta. Os racks Cray GX5000 foram projetados para suportar equipamentos de até 400 kilowatts. A HPE afirma, no entanto, que a arquitetura tem potencial para escalar até 1 megawatt no futuro. Para gerenciar esse consumo, a empresa também anunciou o Supercomputing Management Software, uma suíte que permite o monitoramento do consumo energético e se integra a agendadores de tarefas para otimizar a eficiência e prever custos operacionais.

Alemanha na Vanguarda com os Primeiros Sistemas

Apesar de o lançamento estar previsto apenas para 2027, dois importantes clientes já foram anunciados. Conforme a publicação do The Register, o Centro de Computação de Alto Desempenho da Universidade de Stuttgart (HLRS) e o Centro de Supercomputação Leibniz (LRZ) da Academia de Ciências e Humanidades da Baviera, ambos na Alemanha, serão os primeiros a adotar a nova tecnologia.

O sistema do HLRS será batizado de "Herder", enquanto a máquina do LRZ será conhecida como "Blue Lion", com a promessa de entregar um desempenho sustentado até 30 vezes superior ao da sua configuração atual. Esses projetos pioneiros servirão como um teste de fogo para a nova era de interoperabilidade proposta pela HPE.

Um Ecossistema, Múltiplos Arquitetos

Ao quebrar os silos de hardware, a HPE não está apenas vendendo um novo supercomputador; está propondo uma nova filosofia para a computação de ponta. A capacidade de misturar os futuros chips da Nvidia e da AMD em um único sistema coeso representa um passo significativo em direção a ecossistemas de TI mais abertos e flexíveis. A mensagem é clara: o futuro da supercomputação não será definido por uma única marca, mas pela capacidade de orquestrar as melhores ferramentas disponíveis, construindo pontes onde antes existiam muros. Resta saber como o mercado e os concorrentes reagirão a essa ousada declaração de interdependência.