Europa Entra na Arena dos Titãs: Supercomputador Jupiter Atinge a Marca Exascale

Em um movimento digno de um blockbuster de ficção científica, a Europa marcou oficialmente sua entrada na era da computação em exaescala. O supercomputador Jupiter, uma iniciativa da EuroHPC, tornou-se a quarta máquina publicamente conhecida a ultrapassar a estonteante marca de um exaFLOPS de desempenho no benchmark High-Performance Linpack (HPL). Construído pela Eviden e equipado com os poderosos superchips Grace-Hopper GH200 da Nvidia, Jupiter não é apenas uma máquina poderosa; é uma declaração de soberania tecnológica, sendo o primeiro sistema público fora dos Estados Unidos a alcançar tal feito e a consolidar a posição do continente naquilo que se parece cada vez mais com uma nova corrida espacial, só que em vez de foguetes, a disputa é por poder de processamento.

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Alcançar um exaflop significa realizar um quintilhão (1 com 18 zeros) de operações de ponto flutuante por segundo. Para colocar em perspectiva, é um poder de fogo computacional que permite simulações de uma complexidade que até pouco tempo atrás pertenciam apenas à imaginação. De acordo com a mais recente lista do Top500, divulgada em novembro de 2025, essa conquista coloca Jupiter na quarta posição do ranking global. O mais impressionante? Ele está a uma distância mínima do terceiro colocado, o supercomputador Aurora, do Laboratório Nacional de Argonne, nos EUA, com uma diferença de menos de 12 petaFLOPS. É como em um jogo de corrida onde o quarto colocado está colado no para-choque do terceiro, pronto para ultrapassar na próxima curva.

Ainda há muito espaço para otimização. Segundo o relatório do The Register, otimizações pós-lançamento são comuns nesse nível. O supercomputador Frontier, por exemplo, conseguiu extrair mais 250 petaFLOPS de performance após sua estreia em 2022, enquanto o atual campeão, El Capitan, adicionou 67 petaFLOPS em sua última medição, consolidando seu reinado com 1.809 exaFLOPS.

O Motor de um Titã: Por Dentro do Jupiter

A proeza de Jupiter ainda é uma prévia do seu potencial total, pois a máquina continua em construção. O benchmark de um exaflop foi alcançado usando apenas a sua seção "Booster", que é composta por aproximadamente 6.000 nós BullSequana XH3000 da Eviden, cada um abrigando quatro superchips GH200 da Nvidia. No total, são cerca de 24.000 desses superchips trabalhando em uníssono.

Mas a arquitetura de Jupiter é mais inteligente do que apenas força bruta. Uma segunda partição, chamada de "Universal Cluster", ainda está em desenvolvimento e deve entrar em operação no final do próximo ano. Este cluster não usará GPUs, mas sim 2.600 processadores Rhea1 da designer francesa SiPearl, baseados na arquitetura Arm Neoverse V1. A ideia, como o nome sugere, é ter uma plataforma universal e flexível para rodar softwares que não são otimizados para GPUs. Essa abordagem híbrida transforma Jupiter em um canivete suíço para a ciência, capaz de atacar problemas de todos os ângulos.

A Nova Corrida é Medida em FLOPS

Estamos testemunhando uma nova guerra fria tecnológica. Os Estados Unidos lideram a lista pública com os três primeiros lugares (El Capitan, Frontier e Aurora), mas a China é uma incógnita, suspeita-se que possua vários sistemas de classe exascale, mas opera sob um véu de sigilo. A entrada de Jupiter no clube mostra que a Europa não está disposta a ser mera espectadora.

Além disso, o próprio conceito de "o mais rápido" está evoluindo. O benchmark HPL, padrão ouro por décadas, mede a força bruta em cálculos de dupla precisão (64 bits), essenciais para simulações científicas tradicionais. No entanto, a ascensão da Inteligência Artificial popularizou outros formatos. O benchmark HPL-MxP, por exemplo, permite o uso de precisão mista, onde algumas operações são feitas em 16 ou 8 bits. Nesse cenário, o poder teórico de Jupiter salta para mais de 40 exaFLOPS, e o do El Capitan se aproxima de 90 exaFLOPS. É uma potência ideal para treinar modelos de IA que podem, como citado pelo The Register, acelerar alertas de tornados ou criar gêmeos digitais para prever tsunamis.

O Amanhecer de uma Nova Era Computacional

A chegada de Jupiter é mais do que um marco técnico; é um movimento geopolítico. Para a Europa, ter uma máquina dessa magnitude significa autonomia para impulsionar sua própria pesquisa em IA, medicina, ciência climática e materiais, sem depender de infraestrutura estrangeira. Enquanto os supercomputadores americanos simulam os limites do universo físico, Jupiter está sendo preparado para criar novos universos digitais e treinar IAs que redefinirão nossa realidade. A questão não é mais 'se' teremos simulações perfeitas ou IAs com capacidades sobre-humanas, mas 'quem' as construirá e controlará. Com Jupiter online, a Europa acaba de dar seu lance audacioso nesse jogo de trilhões de dólares.