O Frankenstein dos Laptops Está de Volta: Mais Potente, Igualmente Teimoso

No universo da tecnologia, poucas empresas são tão idealistas quanto a Framework. Sua missão? Criar um ecossistema onde cada componente de um laptop não apenas coexiste, mas dialoga, permitindo upgrades e reparos que desafiam a obsolescência programada. A versão 2025 do Framework Laptop 16 chegou para provar que essa diplomacia de hardware é possível, trazendo o que a empresa chamou de “santo graal” dos upgrades: uma GPU modular. No entanto, segundo uma análise aprofundada do The Verge, o novo modelo é uma criatura de contrastes: um cérebro de última geração em um corpo que ainda range e reclama.

Um Transplante de Coração Gráfico: A RTX 5070 Entra em Cena

O grande protagonista da atualização é, sem dúvida, o módulo gráfico com a Nvidia GeForce RTX 5070. Para os donos da primeira versão, esta é a promessa cumprida. De acordo com os benchmarks do The Verge, a troca representa um salto de desempenho brutal. Estamos falando de um aumento de 34% no 3DMark Time Spy e de impressionantes 64% no teste de GPU do Geekbench. Em jogos como Cyberpunk 2077 e Black Myth: Wukong, isso se traduziu em taxas de quadros de 36% a 50% maiores em relação ao módulo anterior, o AMD Radeon RX 7700S.

A comunicação entre os componentes também foi aprimorada com novas mainboards equipadas com CPUs AMD Ryzen AI 300-series e conectividade Wi-Fi 7. O sistema de resfriamento foi redesenhado, tornando o laptop notavelmente mais silencioso e frio sob pressão. O antigo ruído de “pequeno motor a jato” deu lugar a um som mais tolerável, semelhante a um ruído branco, conforme descrito na análise.

A Diplomacia Falha: Quando as Peças Não se Entendem

Se a performance é o ponto alto, o acabamento físico continua sendo o calcanhar de Aquiles do projeto. A análise do The Verge aponta que o Laptop 16 ainda parece um “conjunto de montar”, com rangidos e vãos entre os espaçadores do teclado que quebram a sensação de um produto premium. A tampa da tela, embora supostamente mais rígida, ainda exibe uma flexibilidade preocupante, apelidada de “flex city” pelo site. É o tipo de detalhe que faz você se perguntar se a modularidade exige um sacrifício estético tão grande.

Mas o problema mais grave nessa negociação entre peças novas e antigas está na tela. Para que os donos do modelo original possam usar o G-Sync da nova GPU Nvidia — tecnologia que suaviza a jogatina —, eles precisam comprar uma nova tela por 279 dólares. O detalhe frustrante? O hardware do painel é idêntico; a única mudança é o firmware, que não pode ser atualizado pelo usuário. De que adianta construir um ecossistema interconectado se a comunicação entre os membros mais antigos e os novos exige um pedágio tão caro e, francamente, desnecessário?

Estabilidade em Jogo: Os Fantasmas da Tela Azul

Um ecossistema tecnológico não vive apenas de boa comunicação, mas de estabilidade. E aqui, o Laptop 16 de 2025 tropeçou. O The Verge relatou cerca de uma dúzia de travamentos (a temida Tela Azul da Morte) durante a primeira semana de testes. Embora as atualizações de BIOS pareçam estar resolvendo o problema gradualmente, a experiência inicial reforça a sensação de que o produto ainda está em fase beta, com o usuário final atuando como testador. É uma troca justa pela capacidade de upgrade? A resposta varia de consumidor para consumidor.

O Custo da Liberdade Modular

A liberdade tem um preço, e no caso do Framework Laptop 16, ele é bem claro. A versão analisada pelo The Verge, em sua configuração DIY, custa US$ 2.524. Para um proprietário da primeira geração que deseja o upgrade completo de CPU e GPU, o investimento pode chegar a US$ 1.857, o preço de um laptop gamer novo e competitivo. Isso nos leva a uma reflexão fundamental: o valor está na performance do momento ou na promessa de relevância futura?

A Framework continua sua jornada ousada, quase como um Navio de Teseu digital, trocando suas partes na esperança de alcançar a perfeição sem perder sua identidade. O Laptop 16 de 2025 é mais um passo nessa direção. Ele é inegavelmente mais poderoso e refinado em alguns aspectos, mas ainda carrega as cicatrizes de um projeto ambicioso. Não é para todos. É para o entusiasta que vê beleza na função, que entende a linguagem das peças e que está disposto a tolerar alguns rangidos em nome de um futuro onde seu laptop pode evoluir junto com ele.