Robotáxis da Waymo Encaram o Desafio das Rodovias nos EUA

A Waymo, empresa de carros autônomos da Alphabet (Google), anunciou em 12 de novembro de 2025 que seus robotáxis agora estão operando em rodovias de alta velocidade nas áreas metropolitanas de Phoenix, Los Angeles e São Francisco. Essa expansão, que promete reduzir o tempo das viagens em até 50%, representa um passo fundamental para a tecnologia, movendo os veículos de um ambiente urbano controlado para o cenário imprevisível e veloz das autoestradas. O serviço será liberado gradualmente, começando com usuários que optam por testar novas funcionalidades no aplicativo da Waymo.

A Prova de Fogo: Da Rua para a Rodovia

Há 16 anos, engenheiros do então projeto de carros autônomos do Google realizavam seus primeiros testes na rodovia que liga o Vale do Silício a São Francisco. Desde então, a tecnologia evoluiu, mas os robotáxis comerciais da Waymo, até hoje, evitavam sistematicamente essas vias. Se um carro autônomo não pode usar uma rodovia, então ele é mais um projeto de ciência do que uma solução de transporte viável. A crítica era válida e a Waymo sabia disso. A empresa passou anos coletando dados, realizando testes em circuitos fechados e rodovias públicas com funcionários, além de incontáveis horas em simulações virtuais para preparar seu sistema para este momento.

A lógica é simples: para competir de verdade, é preciso ser rápido e eficiente. Segundo comunicado da própria Waymo, rotas que incluem trechos de rodovia podem ser até 50% mais rápidas, como no trajeto entre São Francisco e Mountain View. Para Dmitri Dolgov, co-CEO da Waymo, a complexidade da tarefa justifica a demora. “Dirigir em rodovias é uma daquelas coisas fáceis de aprender, mas muito difíceis de dominar quando falamos de autonomia total, sem um motorista humano como backup, e em escala”, afirmou Dolgov em um briefing com a imprensa.

Segurança ou Velocidade? A Waymo Diz 'Ambos'

O desafio técnico é evidente. Em altas velocidades, o tempo para tomar decisões é drasticamente menor e a severidade de qualquer erro é exponencialmente maior. Para mitigar isso, a Waymo afirma que seus veículos possuem um conjunto de hardware com visibilidade de 360 graus, combinando LiDAR, câmeras e radar, capaz de “enxergar” objetos a uma distância de até três campos de futebol. A redundância é a palavra de ordem. Pierre Kreitmann, engenheiro de software principal da empresa, explicou que o sistema foi projetado para lidar com cenários extremos.

A estrutura lógica é quase binária. Se um dos dois computadores de bordo principais sofrer uma falha total de energia, então o sistema de backup é ativado instantaneamente, permitindo que o veículo mantenha o controle e navegue com segurança até a saída mais próxima. Senão, a viagem continua normalmente. Kreitmann, citado pelo The Verge, compara essa capacidade a um humano que subitamente perde metade da visão e da capacidade cerebral, mas ainda consegue dirigir de forma segura. Além da tecnologia embarcada, a Waymo informou que está em coordenação direta com autoridades locais, como a Patrulha Rodoviária da Califórnia e o Departamento de Segurança Pública do Arizona, para alinhar protocolos de emergência.

O Jogo Agora é Outro: Aeroportos e Concorrência

A entrada nas rodovias não é apenas um feito técnico, mas uma jogada estratégica. O acesso a essas vias é indispensável para operar eficientemente em aeroportos, um mercado que, segundo estimativas, representa cerca de 20% das corridas de serviços como Uber e Lyft. Não por acaso, a expansão da Waymo na Baía de São Francisco agora se estende até San Jose, criando uma área de serviço unificada de 260 milhas e incluindo acesso 24/7 aos terminais do Aeroporto Internacional de San Jose Mineta. Este se torna o segundo aeroporto atendido pela empresa, depois do Sky Harbor em Phoenix.

Enquanto isso, o cobiçado Aeroporto Internacional de São Francisco (SFO) permanece em fase de testes. A Waymo recebeu a permissão para operações comerciais lá em setembro, mas ainda negocia com as autoridades aeroportuárias para uma implementação gradual. A verdade é que, para se tornar lucrativa, a Waymo precisa dominar tanto as rodovias quanto os aeroportos. O movimento atual é a prova de que a empresa está finalmente pronta para deixar o ambiente de testes e entrar no jogo de gente grande do transporte por aplicativo.

Este é, portanto, o momento em que a promessa da direção autônoma enfrenta seu teste mais rigoroso. O sucesso da Waymo nas rodovias não determinará apenas o futuro da empresa, mas poderá acelerar a aceitação e a regulamentação de veículos autônomos em todo o mundo. A pergunta deixou de ser *se* eles funcionam, para ser *quão bem* eles lidam com o caos organizado do tráfego real.