Crise no Roxinho: Nubank Demite Funcionários por Tentativa de Sabotagem

O que acontece quando a infraestrutura de uma das maiores fintechs do mundo se torna alvo de seus próprios arquitetos? O Nubank está descobrindo da pior forma. O banco digital demitiu por justa causa dois funcionários de sua área de tecnologia após detectar um plano para sabotar os sistemas internos da companhia. A revelação foi feita em um comunicado interno, distribuído via Slack pelo diretor de tecnologia, Eric Young, ao qual o jornal Valor Econômico teve acesso, conforme reportado pelo portal Baguete. O incidente eleva a temperatura de uma crise que começou com o fim da era de ouro do home office na empresa.

O Roteiro da Crise: Do Home Office à Sabotagem

Para entender a escalada da tensão, é preciso voltar algumas casas no tabuleiro. O Nubank era visto por muitos como um dos últimos grandes bastiões do trabalho remoto, com um modelo que exigia apenas uma semana de trabalho presencial a cada três meses. Essa flexibilidade, amplamente divulgada como um atrativo para talentos, permitiu que muitos funcionários construíssem suas vidas longe dos escritórios. Contudo, a lua de mel acabou.

A empresa anunciou uma mudança drástica em sua política. De acordo com as fontes, o novo plano prevê uma transição gradual para um modelo híbrido, com dois dias presenciais por semana a partir de 2026, aumentando para três dias em 2027. A notícia, comunicada em uma videoconferência pelo CEO David Vélez, caiu como uma bomba no ecossistema interno. A reação foi imediata e, segundo a gestão, desmedida.

Conforme relatado pelo Baguete, o chat do Zoom durante a apresentação ferveu com comentários que a diretoria classificou como "inaceitáveis". Henrique Fragelli, diretor de risco do Nubank, afirmou em outro comunicado interno que o canal corporativo "demanda comportamento profissional", referindo-se a um "linguajar agressivo e desrespeitoso, em alguns casos até com palavras de baixo calão". O resultado? Doze demissões por justa causa, servindo como o primeiro ato do drama que se desenrolava.

Alerta Vermelho na TI: Como a Ameaça Foi Contida

Se as demissões iniciais foram uma resposta à quebra de protocolo na comunicação, a descoberta da tentativa de sabotagem foi um alarme de nível máximo para a segurança. No comunicado de Eric Young, ele explica que a ameaça foi neutralizada antes de causar qualquer dano. "Por meio de nossas operações regulares de Segurança da Informação, detectamos que dois funcionários estavam planejando sabotar os sistemas internos", afirmou Young. "Agimos rapidamente para impedir que esses funcionários tomassem qualquer medida concreta em seu plano, utilizando nossas robustas defesas contra qualquer tipo de ameaça."

Pense no Nubank como um grande ecossistema interconectado, onde cada serviço é um órgão vital que se comunica via APIs. A tentativa de sabotagem pode ser vista como uma tentativa de envenenar as artérias desse sistema, cortando a comunicação e a confiança que mantêm tudo funcionando. A ação rápida da equipe de segurança funcionou como um sistema imunológico, identificando e isolando a ameaça antes que ela se espalhasse. O portal TabNews reforça que as ações foram preventivas e não geraram prejuízos. Ainda assim, a questão permanece: como reconstruir a confiança quando a ameaça vem de quem possui as chaves do reino?

Não é Só uma Demissão, é Crime Federal

A gravidade da situação foi sublinhada pelo próprio diretor de tecnologia. Em sua mensagem, Young fez questão de lembrar aos colaboradores que ameaças ao sistema financeiro são tratadas como crime federal. Os dois funcionários demitidos não apenas perderam seus empregos; eles foram denunciados às autoridades competentes.

O portal Baguete destaca que a Lei nº 7.492/1986 define os crimes contra o sistema financeiro nacional. Isso inclui atos como fraudes, manipulação de dados ou qualquer ação que comprometa a integridade e a estabilidade de instituições financeiras. Tentar derrubar ou corromper os serviços de um banco, portanto, ultrapassa a esfera trabalhista e entra diretamente no código penal, com consequências muito mais severas.

Uma Ferida Exposta no Coração da Fintech

Embora o Nubank tenha demonstrado ter um sistema de defesa eficaz para proteger seus dados e operações, a crise expôs uma vulnerabilidade cultural profunda. A transição do trabalho remoto para o híbrido não é um desafio exclusivo do roxinho, mas a reação em cadeia — da indignação pública à sabotagem planejada — revela um abismo de descontentamento. O banco agiu com firmeza para conter as ameaças, mas o episódio deixa uma cicatriz. A grande questão que fica para o Nubank e para o mercado como um todo é: como as empresas podem reconfigurar suas políticas de trabalho sem quebrar o elo de confiança com as pessoas que constroem e mantêm seus ecossistemas digitais? A resposta, ao que parece, ainda está sendo escrita.