Meta Anuncia Aposta de US$ 600 Bilhões para Dominar a IA, Mas Esquece de Checar o Saldo
Em uma jogada que parece tirada de um roteiro de ficção científica, Mark Zuckerberg anunciou que a Meta planeja investir a bagatela de US$ 600 bilhões em infraestrutura de data centers e empregos nos Estados Unidos até 2028. A promessa, feita ao presidente Donald Trump, não apenas soa como a construção de uma nação digital, mas também ofusca a já ambiciosa iniciativa “Stargate” de US$ 500 bilhões da OpenAI. É o tipo de anúncio que nos faz imaginar se o próximo passo é uma Skynet com um feed de notícias viciante. Mas, como em todo bom enredo cyberpunk, há um detalhe importante: segundo o portal The Register, a Meta simplesmente não tem como pagar por essa brincadeira.
Construindo o Cérebro da IA Global
Vamos colocar esses números em perspectiva. Seiscentos bilhões de dólares é mais do que o PIB de muitos países. Não estamos falando de construir mais alguns galpões para guardar fotos de gatinhos e vídeos de dança. Estamos falando da fundação física para a próxima era da computação, um cérebro global para alimentar a Inteligência Artificial Geral (AGI) e, talvez, o verdadeiro Metaverso que Zuckerberg tanto sonha – algo muito mais complexo do que avatares sem pernas.
Essa infraestrutura seria o coração de uma nova realidade digital, capaz de processar uma quantidade de dados que faria o filme Matrix parecer um joguinho de celular. É uma aposta para não apenas competir, mas para definir as regras do jogo na corrida pela supremacia da IA. O problema é que, para construir esse império, é preciso ter o tesouro de um império, e as contas da Meta não parecem estar alinhadas com essa ambição faraônica.
A Matemática do Metaverso: Uma Equação Quebrada
A frieza dos números traz a visão futurista de Zuckerberg de volta para a Terra, e com um baque. Para atingir a meta de US$ 600 bilhões até o final de 2028, a Meta precisaria quase triplicar seus gastos de capital atuais, que já estão projetados entre US$ 70-72 bilhões para 2025. A empresa até alertou sobre gastos “notavelmente maiores” em 2026, mas o The Register aponta o óbvio: não é o suficiente.
No ano passado, a Meta lucrou “apenas” US$ 62 bilhões. Mesmo que a empresa pegasse todo o seu caixa e equivalentes (cerca de US$ 44,5 bilhões no último trimestre) e reinvestisse cada centavo de lucro nos próximos anos, a conta ainda ficaria longe de fechar. É como querer construir a Estrela da Morte com o orçamento de um X-Wing. A única saída para esse labirinto financeiro parece ser um caminho pavimentado com dívidas.
O Plano B: Dívidas, Bônus e um Sócio para o 'Apocalipse'
E todos os sinais indicam que a Meta já está trilhando esse caminho. A companhia, dona do Facebook e Instagram, revelou planos de vender US$ 30 bilhões em bônus, alguns com vencimento apenas em 40 anos. É, basicamente, apostar que o futuro vai ser tão lucrativo que valerá a pena pagar a conta lá na frente. Mas a jogada mais engenhosa é outra: uma joint venture com a Blue Owl Capital para financiar o campus de data centers Hyperion, na Louisiana.
O acordo, conforme detalhado pelo The Register, é uma obra de arte da engenharia financeira. A Blue Owl Capital entra com o grosso do dinheiro e será dona de 80% do campus, enquanto a Meta fica com 20% e gerencia a construção. E a cereja do bolo? Quando tudo estiver pronto, a Meta vai alugar o espaço que ela mesma ajudou a construir. Em outras palavras, Zuckerberg está convencendo seus amigos do mercado financeiro a pegarem empréstimos em seu nome para construir seu palácio digital, com o compromisso inicial de alugá-lo por apenas quatro anos. É uma estratégia de risco calculado que, se a bolha da IA estourar, pode proteger a Meta de um prejuízo ainda maior.
Um Futuro Comprado a Crédito
No final das contas, o plano de US$ 600 bilhões da Meta é menos uma declaração de poder financeiro e mais uma aposta audaciosa no futuro. É a visão de um mundo onde a infraestrutura de IA será o recurso mais valioso do planeta, e quem a controlar, controlará o futuro. Zuckerberg está disposto a hipotecar o presente da Meta para garantir esse controle. Resta saber se seus parceiros financeiros têm bolsos fundos e paciência suficiente para bancar essa jornada. Estamos testemunhando o nascimento da infraestrutura que definirá o século 21 ou a maior e mais cara bolha especulativa da história da tecnologia? Só o tempo dirá, mas uma coisa é certa: o show será fascinante de assistir.
{{ comment.name }}
{{ comment.comment }}