Uma segunda chance que custou US$ 9 bilhões a mais
Na tecnologia, assim como nos sistemas legados que tanto admiro, persistência é fundamental. O Google parece ter levado isso a sério em sua busca pela Wiz. Em 2024, a gigante da busca tentou abocanhar a startup de segurança em nuvem com uma oferta de US$ 23 bilhões. Na época, Assaf Rappaport, CEO da Wiz, recusou a proposta, afirmando em um e-mail aos funcionários que se sentia confiante em levar a empresa a um IPO. Sabe como é, aquele velho sonho de tocar o sino na bolsa de valores.
Avançamos para março de 2025 e o cenário mudou. O Google voltou à mesa, mas desta vez com um caminhão de dinheiro consideravelmente maior: um cheque de US$ 32 bilhões, em dinheiro. Como dizem por aí, dinheiro não traz felicidade, mas compra empresas de tecnologia de ponta. Em uma reviravolta digna de um bom roteiro, Rappaport mudou de ideia. A oferta, adoçada por nove bilhões de dólares extras, foi aceita. Parece que a confiança no IPO tinha um preço, e o Google estava mais do que disposto a pagá-lo. O IPO da Wiz, por sua vez, nunca chegou a ser protocolado.
Afinal, o que a Wiz tem que vale o maior cheque da história do Google?
Para um negócio que representa a maior aquisição da história do Google, é justo perguntar: o que exatamente a Wiz faz? A resposta está na complexidade crescente da computação em nuvem. A Wiz oferece uma plataforma de segurança unificada que, segundo a própria empresa, coloca "todas as principais nuvens e ambientes de código" sob um único painel de controle. É como ter um porteiro universal para seus prédios na Amazon, Microsoft e, claro, no próprio Google Cloud.
De acordo com as informações divulgadas, a tecnologia da Wiz se conecta aos ambientes de nuvem dos clientes através de uma API. A partir daí, ela realiza um inventário completo, mapeando desde a arquitetura da nuvem até funções sem servidor, contêineres e outros recursos. O grande diferencial é a capacidade de consultar as relações entre esses elementos, permitindo que as empresas entendam como uma falha em um ponto pode afetar todo o ecossistema. O Google afirmou em um comunicado que a plataforma da Wiz vai além do que suas soluções atuais, como Mandiant e Security Operations, oferecem, proporcionando uma visibilidade de segurança abrangente que eles consideram um encaixe natural para o Google Cloud.
Luz verde nos EUA, mas o semáforo global segue amarelo
A aprovação do Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) é, sem dúvida, um passo gigantesco. Durante uma participação no evento Tech Live do Wall Street Journal, o próprio Assaf Rappaport confirmou a notícia, chamando-a de um "marco importante". No entanto, ele fez questão de temperar o otimismo: "ainda estamos na jornada entre a assinatura e o fechamento".
Como um mainframe que precisa de múltiplos terminais para operar, a aprovação do Tio Sam é apenas a primeira de várias. Por serem empresas com atuação global, Google e Wiz agora precisam do aval de reguladores em outras jurisdições importantes, como Reino Unido, União Europeia e Japão. Segundo Rappaport, o processo de análise do DoJ foi extremamente minucioso, envolvendo conversas com clientes da Wiz e outras empresas do setor para avaliar se a fusão criaria uma concentração de mercado injusta. O Google, por sua vez, declarou ao The Register que a aquisição "proporcionará às empresas e governos mais opções na forma como se protegem".
Um novo gigante na nuvem
Com a expectativa de que o negócio seja finalizado no início de 2026, o mercado de segurança em nuvem se prepara para uma nova configuração de forças. Ao integrar a Wiz ao Google Cloud, o Google não apenas adquire uma tecnologia de ponta, mas também solidifica sua posição como um competidor formidável no lucrativo mercado de segurança, mirando diretamente em rivais como a Microsoft. Para os clientes, a promessa é de soluções de segurança multicloud mais robustas e integradas. Resta agora aguardar as cenas dos próximos capítulos regulatórios para ver se este casamento de US$ 32 bilhões terá, de fato, um final feliz.
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