Linux no Steam quebra barreira de 3% e supera o macOS pela primeira vez
Por décadas, a frase “este é o ano do Linux no desktop” foi uma piada recorrente, um mantra sussurrado com uma mistura de esperança e ironia por entusiastas do software livre. Pois bem, pode não ser o ano da dominação global, mas outubro de 2025 ficará marcado na história como o mês em que o pinguim fincou sua bandeira de forma definitiva no território dos games. Segundo a Pesquisa de Hardware e Software da Valve, a base de usuários do Linux na plataforma Steam não apenas ultrapassou a marca simbólica de 3%, como também superou o ecossistema da Apple.
Os Números de Uma Conquista Histórica
Vamos aos fatos, que são teimosos e, neste caso, gloriosos para a comunidade de código aberto. A pesquisa de outubro de 2025 revelou que o Linux agora representa 3,05% de todos os usuários da Steam. Pode parecer pouco diante dos esmagadores 94,84% do Windows, mas o verdadeiro sabor da vitória está na comparação. Pela primeira vez, o Linux deixou para trás o macOS, que registrou 2,11%, de acordo com dados compilados pelo portal TabNews. Parece que, no mundo dos games, o pinguim finalmente deu uma mordida na maçã.
O mais impressionante, contudo, é a velocidade dessa ascensão. Conforme apontado pelo The Register, em outubro de 2024, a fatia do Linux era de exatos 2%. Isso significa um salto de mais de um ponto percentual em apenas doze meses, o que representa um crescimento de quase 50% em sua base de usuários na plataforma em um único ano. Não é todo dia que uma tecnologia com décadas de existência, mantida pela comunidade, demonstra um vigor tão grande em um mercado tão competitivo.
Steam Deck e o 'Mistério' do Windows 10
Mas o que explica esse surto de popularidade? Dois fatores principais parecem ser os protagonistas dessa história. O primeiro, e mais óbvio, é o sucesso contínuo do Steam Deck. O console portátil da Valve, que roda uma versão de Linux customizada (SteamOS Holo), normalizou o sistema operacional para milhões de jogadores, provando que ele é uma plataforma de jogos robusta e viável. Embora o dispositivo tenha sido lançado em 2021, seu impacto continua a reverberar e a atrair novos usuários para o ecossistema.
O segundo fator é uma “feliz coincidência”. O The Register aponta, com uma dose de sarcasmo, para um “mistério duradouro para a posteridade” que ocorreu em outubro de 2025: o fim do suporte oficial ao Windows 10. Com muitos usuários se recusando a migrar para a nova versão do sistema da Microsoft, o Linux emergiu como uma alternativa atraente, gratuita e, agora, comprovadamente competente para jogos. Que tremenda casualidade, não é mesmo?
A Barreira da Compatibilidade: Quase um Vestígio do Passado
Por anos, o grande calcanhar de Aquiles para os jogos no Linux foi a compatibilidade. Rodar um título feito para Windows era um exercício de paciência e conhecimento técnico. Esse cenário, felizmente, é coisa do passado. Uma análise do site Boiling Steam, citada pelo The Register, revelou que a compatibilidade de jogos de Windows no Linux atingiu seu pico histórico. Cerca de 90% dos jogos feitos para o sistema da Microsoft agora conseguem ao menos iniciar no Linux, graças a camadas de compatibilidade como o Proton.
Claro, como um velho arqueólogo de sistemas, sei que “iniciar” não é o mesmo que “ser perfeitamente jogável”. A própria reportagem ressalta que problemas como lentidão, travamentos, corrupção gráfica e, principalmente, a incompatibilidade com sistemas anti-cheat de jogos multiplayer ainda são obstáculos reais. Mesmo assim, ter nove em cada dez jogos dispostos a, no mínimo, conversar com o sistema é um avanço monumental que transforma a plataforma de “inviável” para “promissora”.
O Exército Pinguim e Seus Generais
Dentro desses 3,05%, existe uma diversidade notável de sistemas. Segundo os dados do TabNews, a distribuição de forças é a seguinte:
- SteamOS Holo: 27,18% (o sistema do Steam Deck, como era de se esperar)
- Arch Linux: 10,32% (o favorito dos entusiastas que gostam de montar o sistema do zero)
- Linux Mint 22.2: 6,65% (uma das portas de entrada mais amigáveis para o universo Linux)
Essa diversidade mostra que o crescimento não vem apenas de um único produto, mas de um ecossistema que está amadurecendo e se tornando mais acessível para diferentes perfis de usuários.
Conclusão: O Pinguim Aprendeu a Correr
Ninguém está decretando a morte do Windows no mercado de games. A liderança da Microsoft é, e provavelmente continuará sendo, incontestável por muito tempo. No entanto, o marco de 3% é mais do que um número; é uma prova de conceito. Prova que a persistência de uma comunidade global, aliada a investimentos estratégicos de empresas como a Valve, pode transformar um nicho em uma alternativa real. O pinguim, que por tanto tempo andou desajeitado no mundo dos jogos, finalmente aprendeu a correr. E, pelo visto, está gostando da velocidade.
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