Adobe Revoluciona Photoshop e Express com IA e o Novo Firefly 5
Houve um tempo, não muito distante, em que a edição de imagens era um trabalho quase artesanal, um diálogo silencioso entre o criador e suas ferramentas. Clicar, arrastar, ajustar curvas... um processo que, assim como os mainframes que ainda rodam COBOL em algum porão de banco, era robusto, porém metódico. Durante seu evento Adobe MAX, a Adobe parece ter pego esse manual de instruções e o substituído por um livro de feitiços, apresentando uma enxurrada de novidades baseadas em Inteligência Artificial que prometem transformar seus softwares em parceiros de criação ativos.
Firefly 5: O Gênio da Lâmpada Ganhou Superpoderes
O carro-chefe das novidades é o Adobe Firefly 5, a mais recente iteração do modelo de geração de imagens da empresa. Segundo a Adobe, esta versão foi projetada para ajudar contadores de histórias a serem mais eficazes, e os aprimoramentos são significativos. Estamos falando de resoluções nativas de até 4 megapixels, renderização de figuras humanas mais realista — para evitar aquelas criações que parecem saídas de um quadro cubista, a menos que essa seja a intenção — e uma iluminação aprimorada.
Mas a verdadeira mágica, que a designer sênior da Adobe, Brooke Hopper, descreveu como "revolucionária", está na edição de imagens em camadas baseada em prompts. Imagine que você gerou a imagem de uma tigela de lámen perfeita, mas não gostou dos hashis. Em vez de refazer a imagem inteira e torcer pelo melhor, agora é possível selecionar apenas os hashis e pedir, via texto, para trocá-los por um garfo. De acordo com Alexandru Costin, vice-presidente de IA generativa da Adobe, a intenção é dar aos profissionais um controle mais granular, poupando-os do ciclo de "tentativa e erro". A Adobe também reitera que todo o conteúdo gerado é seguro para uso comercial, um diferencial importante no competitivo mercado de IAs generativas.
Para expandir ainda mais o leque de opções, a plataforma Firefly também está integrando modelos de terceiros, como o Bloom e o Gigapixel da Topaz, e o modelo de áudio Multilingual v2 da ElevenLabs, transformando-se em um verdadeiro centro de criatividade assistida por IA.
Photoshop e Express Ganham um Copiloto Inteligente
Se o Firefly é o gênio, os novos assistentes de IA para Photoshop e Express são os copilotos que vieram para assumir as tarefas repetitivas. Conforme noticiado pelo TechCrunch, a Adobe está incorporando esses ajudantes diretamente nos fluxos de trabalho. No Photoshop, o assistente (atualmente em beta fechado) vive em uma barra lateral, compreende as diferentes camadas do projeto e pode automatizar tarefas como remover fundos, alterar cores ou criar máscaras complexas. É o fim daquela tarefa que exigia a paciência de um monge e a precisão de um cirurgião. Ou, no meu caso, que sempre resultava em algo que parecia recortado com uma tesoura de escola.
Já no Adobe Express, a abordagem é diferente. A empresa criou um modo de assistente dedicado, onde os usuários, especialmente estudantes e profissionais que buscam agilidade, podem usar prompts de texto para criar designs completos. A ideia, segundo Costin, é permitir que o usuário alterne entre o modo de criação por IA e a interface tradicional de edição, obtendo "o melhor dos dois mundos". A Adobe também explora uma conexão do Express com o ChatGPT, permitindo a criação de designs diretamente na interface do chatbot da OpenAI.
Espiando o Futuro: Os "Sneaks" que Bugam a Mente
Como um bom arqueólogo digital, a parte que mais me fascina é olhar para o que está sendo escavado nos laboratórios de pesquisa. A seção "Sneaks" do Adobe MAX, descrita pela Creative Bloq como uma vitrine das "ideias mais selvagens" da empresa, não decepcionou. São projetos que parecem ter saído diretamente da ficção científica.
- Project Motion Map: Uma ferramenta capaz de animar imagens estáticas do Illustrator com simples comandos de texto. No palco, foi demonstrado um hambúrguer cujas camadas se separaram e se empilharam em uma animação fluida, tudo a partir de uma imagem parada.
- Project Light Touch: Este talvez tenha sido o que mais arrancou aplausos. Ele permite ajustar a iluminação de uma foto na pós-produção. A demonstração mostrou lâmpadas sendo acesas e apagadas em uma foto de interior, com a iluminação e as sombras da cena inteira se ajustando em tempo real.
- Project Frame Forward: Uma tecnologia que permite editar um vídeo inteiro apenas editando seu primeiro quadro no Photoshop. Remova um objeto, mude a iluminação, e a IA aplica essas alterações a todos os frames subsequentes. É o tipo de ferramenta que pode economizar semanas de trabalho em pós-produção.
- Project Clean Take: Focado em áudio, permite editar a fala em um vídeo alterando palavras em uma transcrição, separar sons de fundo em trilhas individuais e até substituir a música por uma versão similar gerada por IA, livre de royalties.
Customização é a Palavra-Chave
Democratizar o acesso também parece ser um objetivo. Os Firefly Custom Models, que permitem treinar uma versão do Firefly com base nos seus próprios ativos de marca para gerar conteúdo "no estilo", antes restritos a clientes corporativos, agora estão sendo disponibilizados para todos os criadores através de uma lista de espera. É a abordagem "faça você mesmo" para a personalização da IA. Para quem precisa de mais suporte, a Adobe também oferece o AI Foundry, um serviço onde a empresa faz todo o trabalho pesado para criar modelos customizados para uma marca.
As novidades apresentadas no Adobe MAX deixam claro que a empresa não está apenas salpicando IA em seus produtos. Ela está reescrevendo a gramática da criação digital. As ferramentas estão deixando de ser instrumentos passivos para se tornarem colaboradores ativos, capazes de entender intenções e executar tarefas complexas a partir de uma simples conversa. O futuro da criatividade não será sobre dominar menus e atalhos, mas sobre a habilidade de fazer as perguntas certas para o nosso novo parceiro de silício. A grande questão é: o que faremos com todo esse poder?
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