Uma Ascensão Meteórica (e Bilionária)
Lembro-me dos dias em que a velocidade de uma empresa era medida em anos, talvez décadas. Um mainframe robusto, por exemplo, levava uma eternidade para ser superado. Hoje, a Nvidia nos mostra que a história é escrita em meses. Nesta quarta-feira, 29 de outubro de 2025, a gigante dos semicondutores fez o que nenhuma outra companhia conseguiu: atingiu a estratosférica marca de US$ 5 trilhões em valor de mercado. O feito, relatado por veículos como The Verge e Ars Technica, ocorreu quando suas ações dispararam até 5%, ultrapassando os US$ 211 por papel.
Para colocar em perspectiva, a Nvidia havia acabado de comemorar a marca de US$ 4 trilhões em julho. Em apenas três meses, a empresa adicionou o valor de várias gigantes da tecnologia ao seu capital. Desde o lançamento do ChatGPT no final de 2022, que basicamente acendeu o pavio da corrida pela IA, as ações da companhia se valorizaram quase 12 vezes, segundo a Ars Technica. Esse crescimento vertiginoso deixou para trás titãs como Apple, que atualmente ostenta uma capitalização de US$ 4 trilhões, e a Microsoft, consolidando a Nvidia não apenas como uma participante, mas como a rainha indiscutível do baile tecnológico atual.
Os Motores por Trás do Foguete Verde
Mas o que alimenta essa máquina de fazer dinheiro? A resposta foi dada pelo próprio CEO, Jensen Huang, durante a conferência GTC em Washington. Em um anúncio que fez Wall Street vibrar, Huang revelou que a companhia já tem US$ 500 bilhões em pedidos acumulados para seus processadores de IA das gerações Blackwell e Rubin, com entregas previstas até o final de 2026. A empresa espera enviar cerca de 20 milhões de unidades de seus chips mais recentes, um salto monumental em comparação com os 4 milhões de unidades da geração anterior, Hopper, vendidos ao longo de toda a sua vida útil.
Como se essa montanha de dinheiro em pedidos não fosse suficiente, a Nvidia também anunciou uma série de parcerias e projetos que cimentam seu futuro. A empresa planeja construir sete supercomputadores para o governo dos Estados Unidos, reforçando sua posição estratégica. Além disso, segundo o The Verge, a companhia fechou um acordo para comprar US$ 1 bilhão em ações da Nokia, uma parceria para desenvolver redes 5G-Advanced e 6G "nativas de IA". Outras colaborações de peso incluem, conforme detalhado pela Ars Technica, um acordo com a Uber para equipar uma frota de 100.000 veículos autônomos, uma aliança com a Palantir para usar IA em logística e um projeto com a farmacêutica Eli Lilly para construir o supercomputador mais poderoso do setor privado.
Bolha de IA ou Realidade Concreta?
Com números tão absurdos, a pergunta que ecoa nos corredores do mercado financeiro é inevitável: estamos vivendo uma bolha de IA? Questionado pela Bloomberg Television, Jensen Huang foi categórico: “Eu não acredito que estejamos em uma bolha de IA”. Para ele, o valor é justificado pela utilidade real e crescente dos serviços baseados em inteligência artificial. É uma defesa compreensível vinda do homem cujo patrimônio, segundo a Ars Technica, agora é estimado em US$ 179,2 bilhões, tornando-o a oitava pessoa mais rica do mundo.
No entanto, nem todos compartilham desse otimismo. Analistas como Matthew Tuttle, CEO da Tuttle Capital Management, alertaram em entrevista à Reuters que a expansão atual da IA depende de poucos jogadores dominantes financiando uns aos outros. Segundo ele, no momento em que os investidores exigirem retornos de fluxo de caixa em vez de anúncios de capacidade, o sistema pode travar. É uma discussão válida. Afinal, a história da tecnologia é cheia de bolhas. A diferença é que esta parece ter sido construída sobre uma base de silício bem sólida. Pelo menos não é uma bolha de sabão, é mais como uma daquelas memórias de bolha magnética dos anos 70. E quem sou eu para discutir com algo que funciona?
O Jogo Político dos Semicondutores
A apresentação de Huang em Washington, D.C., também teve um claro tom político. O CEO não poupou elogios às políticas de Donald Trump por acelerarem o investimento doméstico em tecnologia, chegando a encerrar seu discurso com uma referência ao famoso slogan do ex-presidente. A Ars Technica aponta que essa aproximação com o governo americano é estratégica, especialmente considerando que os controles de exportação dos EUA bloquearam a venda dos chips de IA mais avançados da Nvidia para a China, um mercado de bilhões de dólares.
Essa manobra diplomática, combinada com os anúncios de parcerias com empresas americanas e contratos governamentais, parece ter acalmado os investidores sobre a sustentabilidade do crescimento da Nvidia. A mensagem foi clara: a empresa é um pilar da indústria e da segurança nacional dos EUA.
Conclusão: De Placas de Vídeo a Pilar da Civilização Digital
É fascinante olhar para trás e lembrar que a Nvidia, fundada em 1993, começou como uma fornecedora de placas gráficas para videogames, como bem pontuou o portal Olhar Digital. Hoje, ela se tornou a infraestrutura fundamental sobre a qual a nova economia digital está sendo construída. O valor de US$ 5 trilhões, que supera todo o mercado de criptomoedas, não é apenas um número; é um símbolo da era da inteligência artificial. A Nvidia não está mais apenas no jogo, ela está definindo as regras, e o mundo inteiro está assistindo para ver qual será seu próximo movimento.
{{ comment.name }}
{{ comment.comment }}