Faxina na Nuvem: AWS Anuncia o Fim de Mais de 20 Serviços para Arrumar a Casa

A Amazon Web Services (AWS) iniciou um processo de depuração em seu vasto catálogo de produtos, anunciando mudanças significativas no ciclo de vida de mais de 20 de seus serviços e recursos. Segundo o comunicado, essas ofertas serão categorizadas em três estágios: Manutenção, Sunset (descontinuação gradual) ou Fim de Suporte. Esta é a segunda grande onda de ajustes no portfólio da gigante da nuvem, seguindo uma ação similar em 2024 que afetou serviços como AWS CodeCommit e AWS App Mesh. A lógica por trás da decisão é clara: consolidar o portfólio e descontinuar soluções que, segundo a análise da empresa, apresentaram baixa adoção pelo mercado.

Entendendo a Classificação da Limpeza

Para decodificar o anúncio da AWS, é preciso entender a lógica por trás de cada categoria. Não se trata de um desligamento em massa e imediato, mas de um processo estruturado. Se um serviço entra em Manutenção, então os clientes existentes podem continuar a usá-lo, mas novos clientes não serão aceitos a partir de 7 de novembro de 2025. Se um serviço é classificado como Sunset, o fim das operações e do suporte será anunciado em breve, geralmente em até 12 meses, exigindo que os clientes iniciem a migração imediatamente. Por fim, Fim de Suporte é o estágio final, onde o serviço é efetivamente desligado.

Fase 1: Manutenção (Ainda funciona, mas não para novatos)

A lista de serviços que entrarão em fase de manutenção é a mais extensa. Para estes, a porta se fecha para novos usuários em novembro de 2025, mas os atuais podem continuar suas operações enquanto planejam alternativas. A lista inclui:

  • Dados e Armazenamento: Amazon Glacier (o serviço original baseado em vault) e Amazon S3 Object Lambda. De acordo com a análise de Corey Quinn no blog lastweekinaws, citada pelo InfoQ, a mudança no Glacier é mais uma consolidação de API do que um fim, já que as classes de armazenamento S3 Glacier, mais populares, permanecem intactas. Quinn descreve a remoção das APIs antigas como a eliminação de uma interface “profundamente irritante”.
  • Ferramentas de Desenvolvedor e Especializadas: Nesta categoria estão o Amazon CodeCatalyst, Amazon Cloud Directory, Amazon CodeGuru Reviewer, Amazon Fraud Detector e as ferramentas de Modernização .NET. O InfoQ aponta que o CodeCatalyst teve um período pós-lançamento discreto, sugerindo uma adoção abaixo do esperado.
  • Gerenciamento, Mainframe e Edge: Inclui o AWS Mainframe Modernization Service (cujas funcionalidades devem ser absorvidas por um novo serviço consolidado chamado AWS Transform), AWS Systems Manager - Change Manager e Incident Manager.

Fase 2: Sunset (Corra para as colinas, o fim está próximo)

Estes serviços estão com os dias contados. A AWS ainda anunciará a data final, mas a recomendação é iniciar os planos de migração o mais rápido possível. Os produtos nesta categoria são:

  • Amazon FinSpace
  • Amazon Lookout for Equipment
  • AWS IoT Greengrass v1: Uma mudança particularmente delicada, pois, conforme destacado no artigo do InfoQ, clientes com instâncias da v1 rodando em dispositivos de campo desconectados enfrentarão o desafio operacional de atualizar remotamente para a v2, que já está disponível há anos.
  • AWS Proton

Fase 3: Fim de Suporte (Game Over)

Apenas um serviço recebeu o veredito final e imediato: o AWS Mainframe Modernization App Testing, que teve seu suporte encerrado em 7 de outubro de 2025, pouco tempo após seu lançamento geral em 2024.

A Lógica por Trás do Declutter Digital

Qual é a estratégia por trás dessa faxina? Corey Quinn, novamente citado pelo InfoQ, caracteriza a decisão como a AWS limpando os “frutos podres” resultantes de um período de lançamentos excessivos, onde nem todos os serviços se provaram sucessos comerciais. Em vez de um sinal de fraqueza, a medida é vista como um esforço estratégico para arrumar a casa. A consolidação permite que a AWS redirecione seus recursos de engenharia para os produtos principais que geram mais valor para os clientes. O resultado esperado é uma experiência aprimorada em um portfólio menor, porém mais maduro e focado.

O Recado para Arquitetos: Uma Lição Estrutural

Este movimento da AWS serve como um lembrete pragmático para arquitetos de software e engenheiros de nuvem. Conforme comentou Benjamen Pyle em um post no LinkedIn, destacado pelo InfoQ: “Não construa algo integral ao seu produto sobre um serviço de nicho (fringe service)”. A lógica é implacável: se um serviço da AWS é experimental ou tem baixa tração, então a probabilidade de ele ser descontinuado no futuro é consideravelmente maior. Para mitigar riscos, a recomendação é clara: para novos projetos, evite construir dependências críticas sobre serviços que não fazem parte do núcleo de ofertas da AWS, mesmo que eles ainda estejam disponíveis para clientes existentes. A AWS afirmou que guias de migração abrangentes e equipes de suporte estão disponíveis para auxiliar os clientes afetados, mas a responsabilidade de planejar e executar a transição recai, em última instância, sobre quem utiliza a plataforma.