A Passagem do Bastão na Supercomputação

A Hewlett Packard Enterprise (HPE), que se consolidou como uma força dominante no mercado de computação de alto desempenho (HPC) após a aquisição da lendária Cray, anunciou que será a responsável pela construção do "Discovery". Este novo supercomputador exascale está destinado a suceder o atual campeão mundial, o Frontier, no prestigiado Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos. Com um orçamento estimado em 500 milhões de dólares, conforme a solicitação de propostas do laboratório, o Discovery não é apenas uma atualização de hardware; é a estreia de uma arquitetura inteiramente nova, projetada para um mundo onde a simulação científica e a inteligência artificial conversam fluentemente.

A entrega do sistema está prevista para 2028, com o início das operações para usuários em 2029. Segundo a HPE, o Discovery tem o potencial de aumentar a produtividade em certas aplicações em até 10 vezes, impulsionando áreas vitais como pesquisa do câncer, medicina de precisão, energia nuclear e engenharia aeroespacial. É a construção de uma nova ponte para o futuro da ciência.

Um Ecossistema de Inovações: Por Dentro do Discovery

O coração do Discovery será a plataforma de última geração HPE Cray Supercomputing GX5000. Este não é um sistema monolítico, mas um ecossistema cuidadosamente orquestrado. A HPE optou por uma forte parceria com a AMD, equipando as máquinas com os futuros processadores para servidores de codinome "Venice" e as GPUs Instinct MI430X. Essa sinergia entre CPU e GPU é fundamental para lidar com as cargas de trabalho convergentes de modelagem e IA.

A comunicação entre os componentes será gerenciada pela próxima geração da rede de alta performance Cray Slingshot, prometendo velocidades ainda maiores. No quesito armazenamento, o Discovery contará com o novo Cray Storage Systems K3000, que roda a plataforma de armazenamento de objetos de código aberto DAOS (Distributed Asynchronous Object Storage). Curiosamente, a tecnologia DAOS foi desenvolvida pela Intel, mas a HPE demonstrou sua visão de ecossistema ao contratar os engenheiros responsáveis pela plataforma, integrando-os à sua própria equipe de armazenamento. Este sistema K3000 complementará o já existente armazenamento baseado em Lustre, o E2000, mostrando que a interoperabilidade é a chave.

Lux: O Irmão Especialista em Inteligência Artificial

O contrato com Oak Ridge não se resume ao Discovery. A HPE também instalará um segundo sistema, batizado de "Lux", previsto para chegar bem antes, no início de 2026. Lux será um cluster de IA dedicado, projetado para operar em uma plataforma de nuvem multi-tenant, focada em treinamento e inferência de modelos de machine learning.

Baseado em nós HPE ProLiant Compute XD685 com refrigeração líquida, Lux será uma vitrine da tecnologia AMD, equipado com CPUs Epyc, GPUs Instinct MI355X e redes AMD Pensando SmartNIC. A existência de dois sistemas complementares levanta uma questão interessante: o futuro dos grandes centros de pesquisa dependerá dessa diplomacia entre um supercomputador generalista de ponta e um cluster hiperespecializado em IA, cada um falando a sua língua, mas trabalhando pelo mesmo objetivo?

GX5000: A Engenharia por Trás da Potência

A nova plataforma Cray GX5000, que fará sua estreia com o Discovery, é uma maravilha da engenharia. Trish Damkroger, vice-presidente sênior de HPC e IA da HPE, revelou que a arquitetura foi repensada para a era da IA. O resultado é um sistema que, segundo a empresa, é 42% menor que seu antecessor, mas oferece 127% mais poder de computação, suportando até 25 kilowatts por slot de computação.

Talvez a inovação mais surpreendente esteja no sistema de refrigeração líquida. A nova geração da Cray permitirá o uso de água a 40°C (104°F). Pode parecer contraintuitivo, mas essa temperatura mais elevada elimina a necessidade de chillers e refrigeradores adicionais, resultando em uma eficiência energética muito maior. Além disso, o sistema de bombeamento foi redesenhado para ser mais compacto e redundante, e os usuários poderão controlar o fluxo de água para cada lâmina individualmente, otimizando o resfriamento para diferentes cargas de trabalho. É um novo acordo termodinâmico, mais inteligente e eficiente.

O Futuro é Convergente

A construção do Discovery e do Lux representa mais do que uma simples corrida por mais FLOPS. É a materialização de uma tendência que define a computação moderna: a fusão profunda entre a simulação científica tradicional e as cargas de trabalho de inteligência artificial. Com a arquitetura flexível do GX5000, o armazenamento de alto desempenho do K3000 e um sistema de refrigeração revolucionário, a HPE não está apenas fornecendo hardware; está construindo o palco onde as próximas grandes descobertas científicas irão acontecer. A questão que fica é: com ferramentas tão poderosas à disposição, quais novas fronteiras do conhecimento a humanidade estará preparada para desbravar?