Conexão Brasil: Servidores Locais e Soberania de Dados

Imagine que as plataformas de tecnologia são países e os dados são seus cidadãos. Por muito tempo, os "cidadãos" digitais das empresas brasileiras que usam NetSuite precisavam de um passaporte para viajar e morar em servidores no exterior. Durante o evento SuiteWorld 2025, a Oracle NetSuite anunciou que finalmente construiu uma embaixada local, com direito a residência permanente. A empresa confirmou a inauguração de seus primeiros data centers em solo brasileiro, que, segundo Gustavo Moussali, vice-presidente da Oracle NetSuite no Brasil, já estão operacionais desde setembro. “Todos os clientes novos estão sendo provisionados diretamente a partir dessa estrutura”, afirmou Moussali. Na prática, isso é um divisor de águas. A medida estabelece o que chamamos de soberania de dados, garantindo que informações sensíveis de empresas brasileiras permaneçam dentro das fronteiras nacionais, atendendo a exigências regulatórias e de compliance. Além disso, a proximidade física dos servidores resulta em menor latência, ou seja, uma comunicação mais rápida e fluida entre o usuário e a plataforma. É a tecnologia falando português sem sotaque e com uma velocidade de resposta imediata.

NetSuite Next: A IA como Intérprete Universal do Negócio

Se o data center é a nova casa, a iniciativa 'NetSuite Next' é o cérebro que a comanda. O grande anúncio do SuiteWorld 2025 foi a integração nativa de inteligência artificial generativa em todos os módulos da plataforma. Pense nisso não como um "add-on", mas como se o sistema inteiro tivesse se tornado bilíngue, falando fluentemente tanto a língua das operações de negócio quanto a língua da análise preditiva. “Hoje nos posicionamos como um ERP com inteligência artificial em nuvem”, declarou Gustavo Moussali. Ele foi enfático ao conectar a tecnologia a resultados práticos: “O cliente quer saber como aplicar IA para resolver problemas reais do negócio — vender mais, reduzir custos, entregar mais rápido.” A base para essa revolução é a sólida infraestrutura da Oracle. O sistema se apoia no Oracle AI Database e no Oracle Cloud Infrastructure (OCI), que funcionam como um hub diplomático, conectando o NetSuite a alguns dos mais poderosos modelos de linguagem (LLMs) do mundo, como os de parceiros como Google, Meta e OpenAI. Essa interoperabilidade é o que permite ao sistema não apenas entender, mas também gerar relatórios, prever tendências e automatizar tarefas complexas em português desde o primeiro dia. Moussali resumiu a premissa de forma direta: “Sem dados, não há IA”. O NetSuite agora não só armazena os dados localmente, mas os coloca para conversar de forma inteligente.

Novas Ferramentas para CFOs e Desenvolvedores

Essa nova camada de inteligência não é apenas conceitual; ela se manifesta em ferramentas concretas. Para os executivos que vivem de planilhas e métricas, a Oracle NetSuite apresentou o 'NetSuite Subscription Metrics'. Essa solução utiliza IA para analisar automaticamente indicadores de desempenho essenciais como receita recorrente, churn (taxa de cancelamento) e crescimento. É como dar um analista financeiro movido a IA para cada CFO e CRO, capaz de traduzir montanhas de dados em decisões estratégicas rápidas. Do outro lado do ecossistema, os desenvolvedores também ganharam um upgrade. A plataforma 'SuiteCloud Platform' foi expandida com ferramentas de IA que aceleram a criação e customização de aplicações. Isso inclui desde a geração automática de código até assistentes inteligentes que sugerem otimizações em fluxos de trabalho. A interação com o software está mudando. “Estamos vivendo uma revolução na forma como se interage com o software. O usuário, o gestor e o desenvolvedor terão de se adaptar a essa nova era, e nós também estamos aprendendo com os clientes”, observou Moussali, indicando que a adaptação é uma via de mão dupla.

O Cliente Moderno e o Diálogo Humano-IA

Uma das reflexões mais interessantes trazidas por Gustavo Moussali foi sobre a mudança no comportamento do cliente. A era da IA democratizou o acesso à informação de uma forma sem precedentes. “Hoje o cliente pesquisa no ChatGPT antes de falar com um fornecedor. Ele já chega muito mais informado e com uma opinião formada”, disse ele. Esse novo cenário transforma completamente o processo de venda. O diálogo não começa mais do zero; ele parte de um patamar de conhecimento que exige respostas mais profundas e consultivas. No entanto, mesmo com toda a automação e inteligência artificial, o fator humano permanece central. Moussali fez questão de ressaltar que a tecnologia serve para empoderar, não para substituir, a conexão humana. “Nosso atendimento é 100% humano. O cliente pode usar IA para pesquisar, mas quando chega até nós, ele quer confirmar se a solução realmente resolve a dor que ele tem.” É a combinação da pesquisa autônoma do cliente com a validação especializada do fornecedor que define o novo modelo de negócio.

Um Ecossistema Brasileiro Pronto para Crescer

Com uma base global de 43 mil clientes e uma receita anual que beira os US$ 4 bilhões, a aposta da NetSuite no Brasil é calculada e estratégica. O país é visto como um terreno fértil, onde uma cultura vibrante de startups coexiste com um grande número de empresas tradicionais em plena jornada de digitalização. O desafio, segundo Moussali, permanece o mesmo de sempre para as PMEs brasileiras: “crescer de forma estruturada”. Muitas empresas nascem e se desenvolvem em planilhas, mas chega um ponto em que essa estrutura não escala mais. “É aí que entramos”, afirmou. A chegada dos data centers e a infusão de IA na plataforma NetSuite posicionam a Oracle para ser a parceira ideal nesse próximo salto de crescimento. A mensagem é clara: quem decidir investir em transformação digital agora, inevitavelmente investirá em inteligência artificial. Resta saber: as empresas brasileiras estão prontas para deixar suas planilhas para trás e iniciar essa nova conversa, onde os dados não apenas são armazenados, mas também pensam, preveem e agem?