A Nomade Digital: O Trailer que Leva o Futuro aos Confins do Presente
Em meio aos corredores assépticos e às promessas etéreas da Futurecom 2025, um objeto de aparência quase anacrônica capturou a imaginação dos presentes. Não era um holograma, nem um robô com feições humanas, mas algo decididamente terrestre: um trailer. Apelidado carinhosamente de “carretinha do 5G”, o equipamento, batizado oficialmente de “Hi Wi-Fi” pelo Grupo Terzian, seu criador, representa uma filosofia diferente. Em vez de esperar que a infraestrutura alcance os desertos de conectividade do nosso vasto território, por que não levar a conexão até eles? Esta gambiarra do futuro, apresentada em São Paulo, não é apenas um produto; é um manifesto sobre rodas, uma promessa de que nenhum lugar está, de fato, fora do mapa digital.
A Alma de Silício e Aço da Hi Wi-Fi
O que habita dentro desta concha metálica? A resposta é uma convergência de tecnologias que funcionam como um sistema circulatório digital. A Hi Wi-Fi integra banda larga, 4G, 5G, LTE e, quando necessário, estende seus braços para o céu, comunicando-se com satélites. Segundo as especificações divulgadas pelo O-Tech, o braço de tecnologia do Grupo Terzian que requereu a patente da solução, a capacidade é robusta. O sistema possui duas entradas de até 25 GB e uma saída de 12 GB, o suficiente para alimentar a sede de dados de até 1.536 usuários simultâneos, espalhados por um raio de cobertura de até 2 quilômetros. E, como um ser vivo resiliente, a carretinha possui uma autonomia de bateria que pode chegar a sete dias, operando de forma independente, longe das tomadas do mundo civilizado.
Semeando Sinais em Campos de Silêncio
As aplicações desta tecnologia nos convidam a refletir sobre a natureza dos espaços que habitamos. Onde antes havia o silêncio da terra, agora pode haver um diálogo constante entre máquinas. Fernando Terzian, presidente da empresa, ilustra essa visão: “Eu posso levar isto para uma área rural e, conforme a localização onde eu vou plantar, onde eu vou colher, para fazer todo o controle do maquinário, isso com a internet via satélite.” A terra se torna um organismo conectado, um campo de dados em tempo real. Mas a Hi Wi-Fi não serve apenas ao pragmatismo do agronegócio. Terzian continua: “Agora, eu posso, em vez de ser pelo satélite, chegar com uma fibra óptica, então eu levo para eventos, uma ‘carretinha' daquela e consigo colocar mais de 1500 celulares, por exemplo, comunicando com uma antena daquelas”. Um festival de música em um local ermo, um grande evento esportivo em um estádio, ou até mesmo o cenário de um acidente em uma estrada isolada. Em cada um desses contextos, a carretinha surge como um farol, um ponto de ordem e comunicação em meio ao caos ou à celebração. Será que a presença constante do sinal redefine a própria experiência de estar “remoto”?
Para Além do Horizonte: Conectando o Subterrâneo
A visão do Grupo Terzian não se limita à superfície. Durante a Futurecom 2025, a empresa também demonstrou soluções que desafiam nossa percepção de conectividade. Antenas de alta performance, com dupla polarização, foram projetadas para os ambientes confinados do nosso mundo: túneis, linhas de metrô, minas e complexos industriais. Esses equipamentos, compatíveis com 4G, 5G e Wi-Fi, dobram a capacidade de transmissão, levando o sinal para os subterrâneos da civilização. Outra inovação apresentada foi o cabo irradiante, uma espécie de “mangueira” que distribui frequência ao longo de toda a sua extensão, garantindo que a jornada sob a terra não signifique uma desconexão do mundo acima. E talvez a mais poética das tecnologias seja a antena inteligente, que, segundo Fernando Terzian, “se adapta à demanda do ambiente”. Ela direciona sua potência para onde as pessoas se concentram. Como uma consciência artificial, ela percebe a presença humana e responde. Não seria este um espelho de nossa própria atenção, sempre seletiva e direcionada?
O Fim da Solidão Digital ou o Início de Outra?
A “carretinha do 5G” e suas tecnologias irmãs representam um avanço inegável na democratização do acesso. Elas são ferramentas que prometem apagar as fronteiras entre o centro e a periferia, entre o urbano e o rural. Oferecem a possibilidade de um Brasil onde a geografia não seja mais uma sentença de isolamento digital. No entanto, ao tecermos essa rede onipresente, que perguntas deixamos de fazer? Ao preencher cada vazio com um fluxo incessante de dados, que tipo de silêncio estamos perdendo? A Hi Wi-Fi pode conectar o agricultor em seu campo e o fã em um show, mas a verdadeira conexão, aquela que transcende o sinal, ainda dependerá de nós. A tecnologia nos dá o meio, mas a mensagem, como sempre, continua sendo um desafio profundamente humano.
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