Sora 2: A Física Agora é (Quase) Lei

De acordo com o comunicado oficial, o Sora 2 representa um avanço técnico significativo. A promessa é de cenas mais realistas, com uma obediência mais rigorosa às leis da física e uma sincronização de áudio precisa. A lógica é simples: se um jogador de basquete erra o arremesso, então a bola deve rebater no aro de forma convincente, em vez de se teletransportar para a cesta, corrigindo falhas da versão anterior. Demonstrações exibem manobras de skate e mergulhos em piscinas com uma fluidez impressionante.

Contudo, a realidade simulada ainda apresenta seus bugs. Conforme observado pela NBC News, um clipe de demonstração de um artista marcial revelou um bastão que parecia incapaz de manter sua forma, ondulando de maneira pouco convincente. Isso nos leva a uma conclusão lógica: se o prompt descreve um cenário comum, então a física funciona; senão, a simulação pode apresentar falhas. A verdade é que, embora o modelo esteja "longe de ser perfeito", como a própria OpenAI admite, ele é um passo audacioso na simulação do mundo real.

O App Sora: Bem-vindo ao TikTok dos Deepfakes

Junto com o modelo aprimorado, a OpenAI lançou o aplicativo social "Sora", disponível inicialmente para iOS nos EUA e Canadá mediante convite. Descrito pelo The Verge como um "TikTok para deepfakes", o app apresenta um feed algorítmico vertical que pode ser alimentado pelo seu histórico de interações e até mesmo por suas conversas no ChatGPT, embora essa opção possa ser desativada.

O recurso central, e mais controverso, é o "cameos". Ele permite que os usuários criem uma versão digital de si mesmos — um deepfake consentido — gravando um vídeo curto para capturar sua aparência e voz. A partir daí, a diversão (ou o caos) começa. Você pode se inserir em qualquer cenário gerado por IA. As permissões de uso do seu cameo são ajustáveis: só você, pessoas aprovadas, amigos em comum ou, para os mais corajosos, "todos". O CEO Sam Altman, por exemplo, liberou seu cameo para o público geral, e o resultado, como reportado pelo TechCrunch, foi um feed inundado de vídeos seus em situações bizarras, desde servir bebidas para o Pikachu até perguntar aos seus "porquinhos" se eles estão "gostando da lavagem".

Seu Rosto, Minhas Regras: A Lógica da Segurança

A OpenAI afirma que a segurança é uma prioridade. A empresa implementou uma série de medidas: vídeos gerados terão marca d'água e metadados C2PA, o consentimento para uso de um cameo pode ser revogado a qualquer momento e existem controles parentais. A plataforma também afirma bloquear a criação de conteúdo inseguro, como material sexual ou propaganda terrorista.

No entanto, a análise dos fatos revela uma lógica peculiar. Uma jornalista do TechCrunch relatou que sua primeira tentativa de criar um cameo foi bloqueada por "violar as diretrizes". O motivo? Ela usava uma regata, e seus ombros foram aparentemente considerados inadequados. Se uma usuária está de regata, então o conteúdo é barrado. Mas se o feed está cheio de violações de direitos autorais com personagens como Mario e Spongebob, então o sistema parece ser mais permissivo. A própria OpenAI declarou que figuras públicas não podem ser geradas, a menos que elas mesmas criem um cameo, mas o app já está repleto de figuras históricas em cenários anacrônicos.

A empresa também diz que os usuários são "co-proprietários" de seus cameos e podem ver rascunhos feitos por outros, mas ainda não há um sistema que exija aprovação final antes da postagem de um vídeo com sua imagem. A moderação, portanto, parece reativa, não preventiva, o que em uma rede social de deepfakes é uma aposta de alto risco.

A Grande Simulação Mundial ou Apenas Mais 'Slop'?

Com o lançamento do Sora 2 e seu app social, a OpenAI deixa claro que não quer ser apenas uma fornecedora de tecnologia, mas uma competidora direta no ecossistema de conteúdo digital. O movimento coloca a empresa em rota de colisão com gigantes como TikTok e Meta, que também exploram vídeos gerados por IA. A OpenAI afirma que "simuladores de mundo de propósito geral irão remodelar fundamentalmente a sociedade". A questão que fica é se estamos testemunhando o início de uma nova era de criatividade e simulação ou apenas a construção de uma fábrica mais sofisticada de "slop" — o termo usado para conteúdo de baixa qualidade gerado em massa — para alimentar nossos feeds. A ferramenta é poderosa, mas seu impacto dependerá de quem a controla e de quão robustas (ou falhas) suas regras realmente são.