Apple Pisa no Freio com Vision Pro e Mira nos Óculos da Meta

Em Cupertino, parece que a lógica booleana finalmente prevaleceu. Se um headset de realidade mista custa mais de R$ 18 mil, é pesado e tem poucos aplicativos, então sua adoção em massa é, na melhor das hipóteses, improvável. Diante desse fato, a Apple decidiu recalcular a rota, pausando os planos para uma versão mais leve e barata do Vision Pro para focar em um novo campo de batalha: os óculos inteligentes, onde a Meta já reina confortavelmente.

A informação, divulgada pelo jornalista Mark Gurman da Bloomberg, indica uma mudança significativa na estratégia da gigante da tecnologia. A equipe que trabalhava no projeto de codinome N100, uma variante mais acessível do Vision Pro prevista para 2027, foi realocada. A nova missão é acelerar o desenvolvimento de dispositivos que se assemelham muito mais aos Ray-Ban da Meta do que ao parrudo headset da própria Apple.

A Lógica da Mudança: Menos Peso na Cabeça, Mais Foco no Rosto

O Apple Vision Pro, desde seu lançamento, foi recebido como uma proeza de engenharia, mas também como um produto de nicho. Seu preço, que varia de US$ 3.499 a US$ 4.048, e seu design robusto são barreiras evidentes. Os próprios executivos da empresa, segundo as fontes, reconheceram as deficiências e o excesso de engenharia na primeira geração. Enquanto isso, a Meta, em parceria com a Ray-Ban e a Oakley, vem construindo silenciosamente um ecossistema de óculos inteligentes que são, acima de tudo, usáveis no dia a dia.

A jogada da Apple é uma resposta direta a esse avanço. Se os óculos inteligentes podem ameaçar a hegemonia dos smartphones no futuro, então a empresa não pode se dar ao luxo de ficar para trás. A aposta de Mark Zuckerberg em dispositivos vestíveis, que parecia um devaneio do metaverso, agora se mostra uma estratégia sólida, forçando a Apple a entrar no jogo com um atraso considerável.

O Plano de Batalha: Dois Óculos Para Competir

De acordo com o que foi apurado pela Bloomberg, o plano da Apple se divide em pelo menos dois projetos distintos de óculos inteligentes. A abordagem parece ser calculada para testar o mercado e, em seguida, dominá-lo.

  • Projeto N50: Este seria o primeiro a chegar, com um possível anúncio no próximo ano e lançamento em 2027. Trata-se de um par de óculos sem display próprio, compatível com o iPhone, que dependeria fortemente de alto-falantes, câmeras e interação por voz. A ideia é ser um companheiro do smartphone, não um substituto.
  • Óculos com Display: O segundo projeto é mais ambicioso e mira diretamente no Ray-Ban Meta Display. Originalmente planejado para 2028, seu desenvolvimento foi acelerado. Este dispositivo teria uma tela integrada, oferecendo uma experiência de realidade aumentada mais completa e competindo de igual para igual com a oferta mais avançada da Meta.

Ambos os modelos, segundo as reportagens, virão em vários estilos e contarão com um novo chip projetado especificamente para eles. A Apple também explora a possibilidade de incluir funcionalidades de monitoramento de saúde, um trunfo que a empresa já domina com o Apple Watch.

Correndo Contra o Tempo em um Território Inimigo

Apesar do novo foco, a realidade é que a Apple está bem atrás na corrida. A Meta lançou seus primeiros óculos inteligentes em 2021. Hoje, já oferece a segunda geração dos Ray-Ban Meta, novos modelos com a marca Oakley e se prepara para o lançamento do elogiado Ray-Ban Meta Display. Segundo a Meta, todos esses produtos já estão prontos para o consumidor, enquanto os da Apple ainda são protótipos.

Para complicar, a estratégia da Maçã dependerá de voz e Inteligência Artificial, áreas onde a empresa historicamente não tem sido a pioneira. A Apple Intelligence foi anunciada bem depois dos concorrentes, e as grandes atualizações da Siri foram adiadas. Se o controle dos futuros óculos depender de uma assistente virtual, então a Siri precisará de uma evolução monumental para garantir uma experiência fluida.

E o Vision Pro? Foi Abandonado?

Não exatamente. O projeto que foi para a gaveta é a versão mais barata e leve, o N100. No entanto, o Vision Pro original, caro e pesado, deve receber uma atualização. Um registro recente na Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC), conforme noticiado pelo The Verge, revela um 'Head Mounted Device' com o número de modelo A3416, que tudo indica ser uma atualização modesta do headset. Espera-se que ele chegue no final de 2025 com um chip mais rápido, possivelmente o M5. Portanto, se o plano A era tornar o Vision Pro acessível, senão o plano B é manter o produto de luxo vivo enquanto se prepara para a verdadeira guerra no mercado de óculos.

A conclusão é lógica e inevitável: a Apple percebeu que a revolução da 'computação espacial' não começará com um dispositivo que isola o usuário, mas sim com um que se integra sutilmente à sua vida. A empresa está trocando a promessa de um futuro imersivo pela necessidade pragmática de competir no presente. A batalha pelo futuro da tecnologia, ao que tudo indica, será travada no rosto das pessoas, e a Apple, mesmo atrasada, acaba de entrar oficialmente na briga.