Nubank Pede Licença para Virar um Banco nos Estados Unidos

Em um movimento que testa a lógica do mercado, o Nubank, a fintech roxa que desbancou os bancões na América Latina, anunciou em 30 de setembro que quer jogar o jogo dos grandes em seu próprio território. A empresa solicitou formalmente uma licença de banco nacional junto ao Escritório do Controlador da Moeda (OCC) dos Estados Unidos. Se a premissa é que o Nubank é uma potência regional com mais de 123 milhões de clientes, então a conclusão lógica é levar essa potência para o mercado mais competitivo do planeta. A solicitação é o primeiro passo oficial para transformar a fintech em um banco de pleno direito em solo americano.

A lógica é clara: a expansão para os Estados Unidos não é apenas um capricho, mas uma evolução natural. Segundo comunicado da empresa, o objetivo inicial é atender melhor os clientes latinos que já vivem no país, para depois se conectar com o público americano. David Vélez, fundador e CEO da Nu Holdings, resumiu a estratégia em declaração ao NeoFeed: “Estamos construindo o Nubank passo a passo, e ainda tem muito pela frente.” Ele reconhece que o mercado americano é “o maior, mas o mais competitivo também”, um desafio que a empresa parece disposta a encarar de frente.

Um Time de Peso para Convencer o Tio Sam

Se você pretende pedir a chave de um cofre, então é bom levar gente que entende de segredos. A estrutura de governança montada para a operação americana do Nubank é uma declaração de intenções. Não se trata apenas de cumprir um protocolo, mas de apresentar um time tão qualificado que a aprovação regulatória se torne o caminho mais lógico. A cofundadora Cristina Junqueira não apenas será a CEO da nova subsidiária, como já se mudou para os Estados Unidos para liderar o processo pessoalmente.

Mas o verdadeiro xeque-mate está no conselho de administração. A lista de nomes parece ter sido montada para impressionar até o mais cético dos reguladores:

  • Roberto Campos Neto: O ex-presidente do Banco Central do Brasil será o chairman do conselho. Ter um nome que comandou a política monetária da maior economia da América Latina envia um sinal de seriedade e profundo conhecimento regulatório.
  • Brian Brooks: Este é o movimento mais calculado. Brooks foi ninguém menos que o ex-chefe interino do próprio OCC, a agência que vai analisar o pedido do Nubank. É como levar o autor do manual de regras para a sua equipe.
  • Kelley Morrell: Com passagens pela gigante de investimentos Blackstone e pelo Departamento do Tesouro dos EUA, Morrell traz a experiência de Wall Street e do governo, cobrindo as duas frentes mais importantes para um banco no país.

Completam o time a própria Cristina Junqueira e Youssef Lahrech, ex-COO do Nubank. A mensagem é inequívoca: o Nubank não está para brincadeira e investiu pesado em capital humano para garantir que seu pedido seja visto como sólido e confiável.

O Que Muda com uma Licença de Banco?

Operar como uma fintech nos EUA é uma coisa. Ser um banco nacional é outra completamente diferente. A licença, se concedida, permitirá ao Nubank atuar sob as mesmas regras das instituições financeiras tradicionais americanas. Isso significa que a empresa poderá, segundo as fontes, ampliar seu portfólio para muito além de uma simples conta digital internacional. Na prática, o roxinho poderia oferecer:

  • Contas de depósito seguradas.
  • Cartões de crédito com emissão local.
  • Empréstimos pessoais e outras modalidades de crédito.
  • Custódia de ativos digitais, um mercado em plena expansão.

Essa mudança de status colocaria o Nubank em competição direta não apenas com outras fintechs, como a britânica Revolut, mas também com os gigantes estabelecidos do varejo bancário americano. É um salto de categoria, saindo do nicho de soluções para imigrantes para disputar o cliente comum.

O Campo de Batalha Financeiro

A chegada do Nubank ao ringue americano não passará despercebida. A concorrência já está se armando. A Revolut, por exemplo, que também tem ambições globais, planeja investir cerca de US$ 500 milhões nos próximos anos para crescer nos Estados Unidos. O CEO da Revolut nos EUA, Sid Jajodia, afirmou em entrevista ao NeoFeed que, embora o Nubank seja um concorrente no Brasil, nos EUA “com quem realmente competimos são todos os bancos tradicionais”. A declaração mostra que o verdadeiro prêmio é uma fatia do mercado de varejo bancário mais rico do mundo.

O Nubank chega com credenciais fortes. Avaliado em cerca de US$ 76,5 bilhões e com uma receita de US$ 3,7 bilhões no segundo trimestre de 2024, a empresa tem o capital e a base de clientes para justificar sua ambição. Contudo, como a publicação Startups aponta, o caminho não será fácil. O processo de concessão de licença bancária nos EUA é notoriamente longo e rigoroso, exigindo uma estrutura de governança e conformidade regulatória à prova de falhas. A montagem do conselho de administração já é um passo para mitigar esse risco.

A solicitação da licença é, portanto, a primeira variável em uma complexa equação de expansão global. Se o resultado for `true`, o Nubank não será mais apenas uma história de sucesso latino-americana, mas um competidor global em potencial. A conferir se a lógica impecável da sua estratégia será suficiente para desbugar o sistema financeiro americano.