Amazon troca Android por sistema próprio e sinaliza nova era para o Fire TV

Em um movimento que pode ser considerado o fim de uma era para seu ecossistema de entretenimento, a Amazon está se preparando para aposentar o Android em seus futuros dispositivos Fire TV. A partir de 2025, a gigante da tecnologia adotará um sistema operacional próprio, baseado em Linux e batizado de Vega OS. A transição, que segundo o portal Ars Technica já está em estágios avançados, representa uma declaração de independência do Google e uma aposta em um futuro onde a Amazon detém controle total sobre hardware, software e, claro, a experiência do usuário.

O peso da herança do Android

Por anos, os dispositivos da linha Fire, incluindo os populares Fire TV Sticks e tablets, rodaram o Fire OS. Embora carregue o nome da Amazon, este sistema é, em sua essência, um "fork" do Android — uma versão modificada construída sobre o código aberto do Android Open Source Project (AOSP). Essa dependência histórica, embora funcional, sempre trouxe consigo um grande problema: o tempo. Como um arqueólogo digital que encontra camadas de sistemas antigos, a Amazon frequentemente lançava seus produtos com versões defasadas do sistema do Google.

Um exemplo notório citado na reportagem é o tablet Fire HD 8 de 2024, que chegou ao mercado com o Fire OS 8, um sistema derivado do Android 11, lançado originalmente em 2020. Essa defasagem de anos não apenas limita o acesso a novos recursos e otimizações de segurança, mas também amarra a Amazon a um ciclo de desenvolvimento que ela não controla. Ao romper com essa linhagem, a empresa busca agilidade e soberania tecnológica.

Vega OS: a fundação de um novo império

A chegada do Vega OS não é um passo no escuro. A Amazon já tem uma longa história com sistemas baseados em Linux, a espinha dorsal da internet moderna. Produtos como o Echo Hub, o Echo Show 5 de terceira geração e o Echo Spot já operam com um sistema operacional que utiliza o kernel Linux, provando que a tecnologia é robusta e familiar para os engenheiros da casa. O Vega OS é a consolidação dessa expertise em uma plataforma unificada e voltada para o entretenimento.

Com um sistema operacional proprietário, a Amazon ganha uma flexibilidade sem precedentes. A integração com seus próprios serviços, especialmente com a futura assistente de voz generativa Alexa+, pode se tornar muito mais profunda e fluida. Em vez de adaptar suas inovações às limitações de um sistema de terceiros, a empresa poderá construir o sistema em torno de suas ambições, otimizando cada linha de código para seus próprios objetivos estratégicos.

Monetização e o futuro da sala de estar

Não há como ignorar o fator financeiro. Um sistema próprio abre um leque de oportunidades de monetização que vão muito além da venda de hardware. Com o Vega OS, a Amazon terá controle total sobre a exibição de anúncios, o rastreamento de dados de uso e a promoção de seus próprios serviços, como o Prime Video e o Amazon Music. Essa arquitetura fechada permite criar um ecossistema onde cada interação pode ser uma fonte de receita, diminuindo a dependência das margens, muitas vezes apertadas, da venda dos aparelhos.

E quem já tem um Fire TV? A transição não olha para trás

Aqui vem a notícia que pode não agradar os atuais proprietários de um dispositivo Fire TV: a atualização para o Vega OS não está nos planos. A transição será uma linha divisória, aplicada apenas aos novos modelos lançados a partir de 2025. É uma decisão dura, mas comum em grandes saltos tecnológicos. Para a Amazon, construir seu novo futuro exige uma fundação completamente nova, livre das amarras e compatibilidades do antigo sistema Android.

Em resumo, a mudança da Amazon é muito mais do que uma simples troca de software. É um movimento tectônico que reflete uma busca por autonomia, controle e um ecossistema mais rentável e integrado. Ao deixar o Android para trás, a empresa não está apenas modernizando sua tecnologia; está redesenhando as fronteiras de seu próprio império digital, com a sala de estar do consumidor bem no centro de seus planos.