Fim da Novela: TikTok Ganha Cidadania Americana
A saga que parou o mundo da tecnologia chegou ao seu capítulo final. O presidente Donald Trump assinou na última quinta-feira uma ordem executiva que aprova a reestruturação das operações do TikTok nos Estados Unidos, encerrando meses de incerteza para seus 170 milhões de usuários no país. O acordo, costurado para atender às preocupações de segurança nacional, transfere o controle da plataforma para uma nova joint venture de capital majoritariamente americano. No centro da negociação, um número que fez o mercado inteiro piscar duas vezes: um valuation de US$ 14 bilhões. A decisão estabelece um novo ecossistema para o aplicativo, mas o preço final da transação ainda depende da aprovação da China.
Uma Venda com Desconto de Black Friday?
Se o TikTok fosse um produto na prateleira, ele estaria com uma etiqueta de liquidação. O valuation de US$ 14 bilhões, confirmado pelo vice-presidente JD Vance, pegou analistas de surpresa. As estimativas anteriores, segundo diversas fontes, avaliavam apenas a operação norte-americana do aplicativo entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões. A ByteDance, sua empresa-mãe chinesa, foi avaliada em US$ 330 bilhões no mês passado.
Para colocar em perspectiva, o portal Startups destaca que, com uma receita anual superior a US$ 10 bilhões nos EUA, o acordo avalia o TikTok em um múltiplo de 1,4 vezes suas vendas. Em um diálogo de mercado, isso é o equivalente a uma empresa madura e de baixo crescimento. A título de comparação, a Meta (dona do Instagram) negocia a cerca de dez vezes suas vendas, enquanto a Alphabet (controladora do YouTube) possui um múltiplo de oito. Vey-Sern Ling, consultor sênior do Union Bancaire Privée, foi direto ao ponto em uma declaração ao Yahoo Finance: “O valor sugerido parece um assalto em plena luz do dia”. Ashwin Binwani, da Alpha Binwani Capital, classificou o negócio como “a aquisição de tecnologia mais subvalorizada da década”.
A Nova Arquitetura: Quem Controla os Dados?
A estrutura do acordo é uma complexa peça de diplomacia corporativa. Uma nova joint venture será criada para gerenciar o TikTok nos EUA. Segundo os termos divulgados, a ByteDance e suas afiliadas terão menos de 20% de participação nessa nova entidade. O controle majoritário ficará nas mãos de investidores americanos. A gigante de tecnologia Oracle emerge como a principal fiadora dessa nova operação, ao lado do fundo de private equity Silver Lake e do fundo de investimento MGX, de Abu Dhabi.
A Oracle não será apenas uma investidora; ela funcionará como a espinha dorsal de segurança do novo ecossistema. A empresa, que já hospedava os dados de usuários americanos desde 2020, terá seu papel expandido. Ela será responsável por gerenciar a infraestrutura em nuvem, auditar o código e monitorar todos os fluxos de dados para garantir que nenhuma informação sensível faça uma viagem não autorizada para o exterior. Pense na Oracle como o novo consulado, emitindo vistos e validando passaportes para cada pacote de dados que transita pela plataforma. Segundo a CNBC, Trump também mencionou que figuras como Larry Ellison (Oracle), Michael Dell e os empresários Rupert e Lachlan Murdoch poderiam estar envolvidos no grupo de investidores.
O Algoritmo Sob Nova Direção
O ativo mais valioso do TikTok não é sua base de usuários, mas seu algoritmo de recomendação, a famosa “mágica” que mantém os usuários hipnotizados. Sob o novo acordo, essa joia da coroa também ganha um novo passaporte. O controle sobre o algoritmo, o código-fonte e as políticas de moderação de conteúdo será totalmente transferido para a entidade americana.
Mais do que uma simples transferência, o acordo exige que o algoritmo seja completamente retreinado usando apenas dados aprovados pelos EUA. A medida visa eliminar qualquer possibilidade de influência ou propaganda estrangeira, uma das principais preocupações que motivaram a ação do governo. Essa reconstrução será inspecionada e validada continuamente por parceiros de segurança, com a Oracle à frente. É como se o cérebro da operação estivesse sendo reeducado em uma nova escola, com novas regras e sob supervisão constante para garantir que suas decisões futuras estejam alinhadas aos interesses locais.
Para os 170 milhões de usuários americanos, a mudança promete ser sutil na tela do celular, mas profunda nos bastidores. O aplicativo que eles amam continuará funcionando, mas agora operando dentro de uma nova jurisdição digital. Para a ByteDance, a venda representa uma perda financeira considerável, mas garante a sobrevivência de seu produto no mercado mais lucrativo do mundo. A novela pode ter acabado nos EUA, mas o sinal verde do governo chinês ainda é uma página em branco nesta história de tecnologia, poder e diplomacia global.
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