IA já domina o desenvolvimento de software, aponta relatório DORA do Google
Esqueça os debates sobre se a Inteligência Artificial vai dominar o desenvolvimento de software. Aparentemente, ela já chegou, sentou na cadeira do dev e começou a codar. De acordo com o mais recente e aguardado relatório “DevOps Research and Assessment” (DORA) do Google, a adoção de IA nas trincheiras da programação não é mais uma tendência, mas um fato consumado: impressionantes 90% dos quase 5.000 profissionais de tecnologia entrevistados já usam a tecnologia em seu trabalho diário.
A Era da IA: Adoção Já é História
Se em algum momento a IA foi uma ferramenta de nicho, esses dias acabaram. O relatório do Google, divulgado hoje, mostra que a presença de ferramentas de IA no dia a dia dos desenvolvedores cresceu 14% em relação ao ano anterior, consolidando uma mudança fundamental na forma como o código é escrito. Mais do que isso, os dados revelam que os desenvolvedores dedicam, em média, duas horas de seu dia trabalhando ativamente com essas ferramentas. Nathen Harvey, líder do DORA e defensor dos desenvolvedores no Google Cloud, resume a situação de forma categórica: “Não precisaremos mais perguntar sobre a adoção da IA no futuro. Vamos simplesmente assumir que é uma coisa, assim como um computador é uma coisa ou o e-mail é uma coisa que você usa no trabalho.”
Harvey ainda observa que esse tempo de interação diária de duas horas se alinha perfeitamente com estudos que indicam que engenheiros de software passam de 30% a 40% de seu tempo efetivamente escrevendo código. “Não acho que seja apenas uma coincidência”, afirmou ele ao The New Stack. “Acho que se você está escrevendo código, é provável que esteja interagindo com IA.”
Produtividade no Talo, Confiança em Aberto
A massiva adesão parece estar trazendo resultados concretos. Segundo a pesquisa, mais de 80% dos entrevistados afirmaram que a IA aumenta sua produtividade, enquanto 59% relatam uma melhoria direta na qualidade do código. Em contrapartida, apenas 10% dizem que a IA piora seu código, um número bastante baixo que sugere uma aceitação positiva dos resultados.
Contudo, nem tudo são flores no paraíso da automação. A confiança no que a IA gera ainda é um campo minado. Embora o uso seja quase universal, 30% dos desenvolvedores disseram confiar “pouco” ou “nada” nos resultados gerados pela IA. Na outra ponta, apenas 24% afirmaram confiar “muito” ou “totalmente”. Para Nathen Harvey, isso não é um problema, mas sim um sinal de maturidade. Ele encara os dados como um “ceticismo saudável”. “Ter 100% de confiança no resultado está errado. Ter 0% de confiança está errado. Há algo no meio que é o certo”, explica. A pesquisa sugere que essa confiança é construída com a experiência, alinhando as expectativas à medida que o uso se torna mais frequente. Até mesmo no Google, a supervisão humana continua sendo fundamental. O CEO Sundar Pichai revelou recentemente que, embora cerca de 30% do novo código da empresa seja gerado por IA, todo ele é revisado por engenheiros humanos antes de ir para a produção. É o velho lema “confie, mas verifique” adaptado para a era digital.
O Espelho da Organização: IA Amplifica o Bom e o Ruim
O ponto central do relatório DORA deste ano é que a simples implementação de uma ferramenta de IA não garante o sucesso. A pesquisa mostra que a tecnologia atua como um “espelho e multiplicador”, amplificando tanto os pontos fortes de organizações bem estruturadas quanto os problemas daquelas disfuncionais. “Adoção da IA precede absolutamente qualquer impacto que você obterá dela, mas a adoção por si só não garante que você terá impacto ou bons resultados”, alerta Harvey.
Para guiar as empresas nesse novo cenário, o DORA desenvolveu o que chama de Modelo de Capacidades de IA. Trata-se de um conjunto de sete práticas organizacionais que potencializam os benefícios da inteligência artificial. São elas:
- Posicionamento claro e comunicado sobre o uso de IA.
- Ecossistemas de dados saudáveis e bem gerenciados.
- Dados internos acessíveis para a IA.
- Práticas robustas de controle de versão.
- Trabalhar em pequenos lotes (small batches).
- Foco centrado no usuário.
- Plataformas internas de qualidade.
O estudo reforça que o sucesso com a IA não é uma “decisão de compra”, mas sim uma “decisão de cultivar as condições onde os desenvolvedores assistidos por IA prosperam”.
A Nova Fronteira é a Adaptação
Ao final, a grande mensagem do relatório DORA é que o debate mudou de patamar. “A história deste ano não é sobre adoção de IA. Essa história todos já conhecem. Mas sim sobre como começamos a nos adaptar a essa nova forma de trabalhar”, conclui Harvey. A questão não é mais se as equipes usarão IA, mas como elas se adaptarão para extrair os melhores resultados. A pesquisa identificou que cerca de 20% das equipes já atingiram o nível de “grandes realizadores harmoniosos”, demonstrando alta produtividade com baixo atrito e esgotamento. Para o resto do mercado, a lição é clara: a revolução da IA já aconteceu. Agora, começa o longo e necessário trabalho de adaptação cultural e de processos para essa nova realidade.
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