O Paradoxo da Gigante de Tecnologia
No grande teatro corporativo, onde cada movimento é um ato calculado, a Oracle acaba de encenar uma peça familiar com um novo elenco. A empresa anunciou na última segunda-feira, 22 de setembro de 2025, que está retornando ao modelo de liderança com dois CEOs, nomeando Clay Magouyrk e Mike Sicilia para dividir o trono. A decisão ocorre enquanto a CEO de longa data, Safra Catz, transita para a posição de vice-presidente executiva do conselho. Este movimento estratégico, desenhado para solidificar o domínio da Oracle na corrida pela infraestrutura de IA, desenrola-se contra um cenário sombrio de demissões em massa. Enquanto o palco da liderança se enche, a plateia de funcionários parece diminuir. Que tipo de futuro está sendo escrito neste roteiro de dualidades?
O Retorno de um Comando de Duas Cabeças
A Oracle não é estranha a essa estrutura de poder. Conforme aponta a publicação The Register, Safra Catz já dividiu o cargo com Mark Hurd até seu falecimento em 2019, quando assumiu o comando sozinha. Agora, a empresa aposta novamente na sinergia de dois líderes com perfis complementares. Clay Magouyrk, que ingressou na Oracle em 2014 vindo da Amazon Web Services, é creditado como uma das mentes por trás da Oracle Cloud Infrastructure (OCI). Mike Sicilia, por sua vez, liderava a divisão de aplicações industriais, supervisionando softwares para setores como saúde e varejo. Juntos, eles carregam a missão de aprofundar a aposta da empresa em serviços de nuvem e IA.
O fundador e eterno timoneiro, Larry Ellison, elogiou a dupla como “líderes comprovados” que já comprometeram a infraestrutura e as aplicações da Oracle com a causa da IA. Em comunicado, Catz também expressou confiança na transição: “Neste momento de força, é o momento certo para passar o cargo de CEO para a próxima geração de executivos capazes”, afirmou, conforme relatado pela TechCrunch.
A Aposta Bilionária na Era da Inteligência Artificial
A mudança na liderança da Oracle não é um capricho, mas uma resposta direta às demandas de um mercado cada vez mais focado em inteligência artificial. A empresa está se posicionando agressivamente para ser a espinha dorsal da próxima revolução tecnológica. Os números são astronômicos e revelam a escala da ambição. A Oracle reportou recentemente um backlog de contratos de US$ 455 bilhões em toda a empresa, impulsionado pela demanda por IA.
Segundo a TechCrunch, a empresa não está apenas falando, está investindo pesado. Há relatos de um acordo monumental de US$ 300 bilhões para fornecer poder computacional à OpenAI, além de um contrato de US$ 20 bilhões com a Meta. Esses movimentos colocam a Oracle no centro de projetos colossais como o Stargate, uma iniciativa de US$ 500 bilhões com a OpenAI e o SoftBank para construir data centers de ponta. Para Magouyrk e Sicilia, a tarefa é clara: transformar esses contratos bilionários em uma liderança de mercado duradoura.
O Fantasma das Demissões nos Corredores
Contudo, por trás da fachada de crescimento e inovação, uma narrativa bem diferente se desenrola. Enquanto a Oracle anuncia acordos que desafiam a imaginação, ela também distribui avisos de demissão. Documentos recentes revelaram cortes de mais de 350 funcionários na Califórnia e em Washington, mas fontes do The Register sugerem que o número real pode chegar a dezenas de milhares em todo o mundo, com algumas estimativas apontando para 12.000 dispensas.
Um dos grupos mais atingidos foi a unidade MySQL, o que levou seu criador, Monty Widenius, a expressar publicamente sua tristeza, descrevendo-se como “de coração partido” com os cortes que, segundo ele, ameaçam a saúde do projeto de código aberto. Pode uma empresa construir seu futuro sobre as ruínas do presente de seus colaboradores? A coexistência de um crescimento contratual explosivo e uma redução drástica de pessoal cria uma dissonância que os novos co-CEOs terão que administrar.
Um Futuro de Dualidades e Desafios
A Oracle dobra sua liderança em um momento em que enxuga suas fileiras. A estratégia, embora ousada, não é isenta de riscos. A rival SAP já tentou um modelo de co-liderança que acabou com um único CEO no poder, um lembrete de que a harmonia no topo pode ser efêmera. O desafio para Clay Magouyrk e Mike Sicilia será monumental: eles precisam não apenas entregar o futuro de IA que Larry Ellison vislumbra, mas também curar as feridas de uma força de trabalho ansiosa e gerenciar a percepção de uma empresa que parece priorizar contratos sobre pessoas.
Resta saber se, ao duplicar o comando, a Oracle conseguirá dobrar sua sorte, ou se apenas amplificará as contradições de uma era tecnológica que promete um futuro brilhante para algoritmos, enquanto o destino humano dentro de suas paredes se torna cada vez mais incerto.
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