Um Firmamento Digital em Constante Reconfiguração

As nuvens que observamos no céu são etéreas, mutáveis, quase poéticas em sua impermanência. No universo da tecnologia, porém, a nuvem é um território de poder, um ecossistema digital onde gigantes consolidam seus domínios. Em um desses movimentos que alteram a geografia do nosso tempo, a BRLink, empresa do ecossistema da Ingram Micro, acaba de anunciar a compra da operação de nuvem AWS da Nextios, braço corporativo da LWSA. A transação, anunciada em 19 de setembro de 2025, não é apenas uma fusão de ativos, mas um questionamento sobre como o futuro digital brasileiro está sendo construído, peça por peça, aquisição por aquisição.

O que significa, afinal, passar o bastão de uma operação de nuvem? Significa transferir a responsabilidade por ecossistemas inteiros que sustentam grandes marcas. Conforme detalhado no comunicado, clientes da Nextios como Digio, Volkswagen, Kawasaki, Ipiranga e Riachuelo agora terão seus ambientes de AWS geridos pela BRLink, que já atendia a nomes como Elgin, Porto Seguro e GPA. Embora os termos e o valor do acordo permaneçam envoltos na discrição típica desses negócios, o impacto é claro: a BRLink fortalece imensamente sua posição no mercado, absorvendo não apenas uma carteira de clientes, mas também a expertise e os talentos que a compunham.

As Vozes por Trás da Consolidação Estratégica

Todo grande movimento corporativo possui seus arquitetos, e suas palavras ecoam a estratégia por trás dos contratos. Guilherme Barreiro, diretor da unidade de negócios BRLink e serviços da Ingram Micro, afirmou que a aquisição amplia a capacidade da empresa para atender demandas complexas em cloud. “Reforça nossa posição como um dos principais parceiros AWS no Brasil”, disse ele, destacando que a jogada reflete a estratégia global da Ingram Micro de investir na expansão de serviços gerenciados em nuvem. Não se trata de uma ação isolada, mas de uma peça em um tabuleiro muito maior, onde o Brasil se destaca como um cenário relevante.

Essa relevância é sublinhada por Flavio Moraes Jr., VP & Brazil Chief Executive da Ingram Micro. Segundo ele, a operação reforça o peso do Brasil no contexto global da companhia. “Estamos comprometidos em fortalecer nossas ofertas locais e agregar valor ao ecossistema de canais”, destacou Moraes. A incorporação da Nextios, que até junho de 2020 era conhecida como Locaweb Corp Cluster2GO, é descrita como um passo para consolidar a liderança em cloud e habilitar projetos de alta complexidade. A mensagem é inequívoca: a Ingram Micro, que adquiriu a BRLink em 2021, continua a apostar alto no mercado brasileiro, solidificando sua estrutura para dominar um setor que é a espinha dorsal da economia digital.

O Legado de uma Nuvem e o Futuro que se Desenha

A Nextios, atuante no mercado B2B desde 2003, entregou à BRLink um portfólio robusto de serviços, que vão de consultoria e migração a modernização de aplicações e suporte especializado em AWS. Agora, essas competências se somam ao catálogo já extenso da BRLink, que inclui soluções de managed services, data analytics, inteligência artificial e machine learning. As equipes, segundo o anúncio, atuarão de forma conjunta, buscando sinergias para acelerar a jornada digital dos clientes em todo o país. Mas o que isso representa para o ecossistema como um todo?

Cada consolidação como esta nos leva a refletir. Em um mundo onde a infraestrutura digital é tão vital quanto a física, a concentração de poder em menos players define as regras do jogo para a inovação. A aquisição da operação AWS da Nextios pela BRLink é um testamento da maturidade e da competitividade do mercado de cloud brasileiro. É um sinal de que, para navegar neste firmamento digital, é preciso ter escala, especialização e uma visão estratégica de longo prazo. A nuvem, afinal, nunca foi apenas sobre tecnologia; sempre foi sobre poder, influência e a arquitetura de um novo mundo. E nesta arquitetura, mais um bloco fundamental acaba de mudar de mãos.