A Aposta Bilionária e o Wi-Fi Vilão

Em um evento grandioso na Califórnia, o Meta Connect 2025, Mark Zuckerberg subiu ao palco para apresentar o que ele acredita ser o próximo capítulo da interação humana com a tecnologia: um mundo onde os smartphones são relíquias. A estrela do show foi o Meta Ray-Ban Display, óculos inteligentes projetados não apenas para complementar, mas para eventualmente substituir o aparelho que domina nossos bolsos. Segundo Zuckerberg, a promessa é "preservar a sensação de presença" que perdemos para as telas. No entanto, o que deveria ser uma demonstração do futuro se transformou em uma comédia de erros, onde a tecnologia de ponta foi sabotada pelo vilão mais comum da vida moderna: o Wi-Fi.

Uma Visão que Custou US$ 70 Bilhões

A ambição da Meta não é pequena nem barata. A divisão Reality Labs, responsável pelo desenvolvimento desses dispositivos, acumulou perdas de US$ 70 bilhões desde 2020, conforme aponta o TechCrunch. O evento finalmente deu um vislumbre de onde parte desse dinheiro foi investido. A ideia é criar um ecossistema de hardware próprio, diminuindo a dependência das lojas de aplicativos da Apple e do Google, que hoje abocanham uma fatia dos lucros da gigante da tecnologia.

A grande inovação apresentada foi a Meta Neural Band, uma pulseira que utiliza eletromiografia de superfície (sEMG) para interpretar os sinais neurais enviados do cérebro para a mão. Na prática, isso permite que o usuário "escreva" mensagens de texto no ar, apenas com gestos sutis dos dedos. Zuckerberg demonstrou a façanha no palco, afirmando atingir cerca de 30 palavras por minuto, um número impressionante se considerarmos que a média em smartphones é de 36 palavras por minuto, de acordo com pesquisas citadas pelo TechCrunch.

Quando a Demo Vira Meme

Apesar da tecnologia promissora, a execução ao vivo foi um desastre. O portal Baguete detalhou os momentos mais constrangedores da apresentação. No primeiro teste, o chef de cozinha Jack Mancuso foi convidado para usar o recurso Live AI para criar uma receita. Após perguntar aos óculos "o que faço primeiro?", a inteligência artificial permaneceu em um silêncio embaraçoso, para depois dar uma resposta desconexa, arrancando risadas da plateia.

"Tudo bem, acho que o Wi-Fi pode estar com problema", disse o chef, visivelmente desconfortável. Zuckerberg entrou na defensiva: "A ironia é que você passa anos desenvolvendo tecnologia e, no dia da verdade, é o Wi-Fi que te derruba".

A maré de azar não parou por aí. Ao tentar atender a uma videochamada do WhatsApp nos óculos, a conexão falhou repetidamente. "Isso é tão ruim. Eu não sei o que aconteceu", lamentou o CEO. A situação chegou a um ponto cômico quando ele, antes de uma última demonstração, ironizou a própria sorte: "Agora, uma última demonstração ao vivo. Eu não aprendo, eu não aprendo".

E o Brasil Nessa História?

Apesar dos percalços, a Meta confirmou uma notícia importante para o mercado local. Pela primeira vez, os óculos inteligentes da empresa serão lançados oficialmente no Brasil. O TabNews informou que a nova geração do Ray-Ban Meta e o modelo esportivo Oakley Meta Vanguard chegarão ao país. Nos Estados Unidos, os preços variam entre US$ 379 e US$ 499. Os dispositivos contam com câmera ultrawide de 12 MP, gravação de vídeo 3K, resistência à água e bateria de longa duração. A chegada ao Brasil, ainda sem data e preço definidos, marca um passo significativo na expansão global da plataforma.

O Futuro Chegou, Mas Precisa de um Roteador Melhor

O Meta Connect 2025 deixou uma impressão dúbia. Por um lado, a visão de um futuro sem a tirania das telas de celular é fascinante, e a tecnologia de controle neural parece saída da ficção científica. Por outro, as falhas ao vivo expuseram a fragilidade de um ecossistema que aspira substituir a robustez e a confiabilidade do smartphone. A grande questão que fica é se os consumidores estarão dispostos a trocar um dispositivo que funciona por um que, em seu próprio lançamento, foi derrotado por uma conexão instável. A aposta de Zuckerberg é alta, mas a apresentação mostrou que o caminho para destronar o smartphone ainda é longo e, aparentemente, cheio de obstáculos de conexão.