'Slay a Função, Bestie': A Linguagem de Programação da Geração Z Criada por IA
Em um mundo onde a tecnologia avança em ritmo de dancinha do TikTok, a fronteira entre um projeto sério e um meme genial está cada vez mais tênue. Prova disso é a criação da linguagem de programação 'cursed', um projeto que nasceu de uma premissa inusitada: o que acontece quando você coloca uma inteligência artificial para trabalhar em loop por três meses com a missão de criar uma linguagem de programação para a Geração Z? O desenvolvedor Geoffrey Huntley decidiu descobrir, e o resultado é tão funcional quanto hilário.
Huntley alimentou a IA Claude, da Anthropic, com um prompt simples e direto: “Ei, você pode me fazer uma linguagem de programação como Golang, mas com todas as palavras-chave lexicais trocadas para que sejam gírias da Geração Z?”. Segundo seu post de anúncio, ele deixou a IA nesse loop contínuo por três meses, um processo que ele descreve como a materialização da ideia de que, com IA, 'você agora pode fazer qualquer coisa'. O resultado é uma linguagem que funciona, compila e que desafia a noção de que IA leva à atrofia de habilidades, reforçando a visão de que ela, na verdade, amplifica o que um desenvolvedor já sabe.
Um Dicionário para Programar no 'Vibe' Certo
Para quem está de fora, o código em 'cursed' pode parecer uma conversa de WhatsApp. Para os programadores, é um convite a repensar a lógica por trás dos comandos que usam diariamente. A estrutura léxica da linguagem é uma verdadeira ponte entre a cultura da internet e a sintaxe de programação, onde cada comando tradicional foi substituído por uma gíria popular.
A comunicação com o compilador agora exige um novo tipo de fluidez. Confira algumas das 'traduções' que formam a base do ecossistema 'cursed':
- slay: a palavra usada para declarar uma função (
func
). Porque toda função bem escrita 'arrasa'. - ready: substitui a condicional 'se' (
if
). - bestie: seu melhor amigo para criar loops, o 'para' (
for
). - based: o novo 'verdadeiro' (
true
). - cringe: obviamente, o equivalente a 'falso' (
false
). - yeet: para importar pacotes (
import
), ou seja, 'lançar' uma biblioteca para dentro do seu código. - sus: usado para declarar uma variável (
var
), afinal, toda variável é um pouco 'suspeita' até receber um valor. - facts: para declarar uma constante (
const
), pois constantes são fatos imutáveis. - damn: o comando para retornar um valor (
return
). - fr fr: para comentários de uma única linha (
//
), a versão de 'for real, for real'.
Não é Só Meme: Um Ecossistema Funcional e Aberto
Apesar do tom de brincadeira, Geoffrey Huntley garante que a 'cursed' é mais do que uma piada elaborada. O projeto, totalmente documentado em seu site oficial e com código aberto no GitHub, já conta com um ecossistema surpreendentemente robusto. A linguagem possui um compilador com dois modos de operação (interpretado e compilado) e é capaz de gerar binários para macOS, Linux e Windows através de LLVM. Isso significa que os programas escritos com gírias podem, de fato, rodar como qualquer outro software.
Além disso, o projeto inclui extensões de editor de código para ferramentas populares como VSCode, Emacs e Vim, além de uma gramática Treesitter, facilitando a vida de quem decidir se aventurar nesse universo. Huntley afirma que a IA Claude foi responsável por implementar 'qualquer coisa que ela desejasse', resultando em uma série de pacotes de biblioteca padrão, ainda que, segundo ele, 'selvagens e incompletos'.
O Futuro é Colaborativo e, Talvez, 'Amaldiçoado'
Qual o próximo passo para uma linguagem de programação nascida de um experimento com IA? Segundo seu criador, não há um plano definido. O futuro da 'cursed' está nas mãos da comunidade. Huntley convida outros desenvolvedores a 'rodar mais alguns loops no Claude' e contribuir com o projeto. A meta, em suas palavras, é ver a 'cursed' aparecer na famosa pesquisa anual do Stack Overflow, seja como a linguagem 'mais amada' ou a 'mais odiada'.
O projeto 'cursed' serve como um fascinante estudo de caso sobre o estado atual do desenvolvimento de software. Ele demonstra como as IAs generativas podem ser usadas não apenas para resolver problemas, mas para criar ferramentas e sistemas complexos de forma rápida e experimental. É a prova de que, hoje em dia, a única barreira para construir algo novo pode ser apenas a criatividade do prompt inicial.
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