A OpenAI, empresa por trás do ChatGPT, está partindo para uma ofensiva em duas frentes que pode redesenhar o cenário tecnológico. A companhia está desenvolvendo seu próprio chip de inteligência artificial em parceria com a Broadcom, com lançamento previsto para 2026, para diminuir sua dependência da Nvidia. Simultaneamente, prepara uma plataforma de empregos que a colocará em rota de colisão direta com o LinkedIn, de sua principal parceira, a Microsoft. Esses movimentos sinalizam uma estratégia clara: construir um ecossistema cada vez mais independente e expansivo.

Construindo o Próprio Silício: A Parceria com a Broadcom

Até agora, o ecossistema de IA tem um rei indiscutível quando o assunto é hardware: a Nvidia. Seus chips são o motor que alimenta a grande maioria dos modelos de inteligência artificial. No entanto, depender de um único fornecedor é arriscado e caro. A OpenAI parece ter entendido o recado e decidiu que, em vez de apenas alugar o espaço, é hora de construir suas próprias fundações. De acordo com fontes próximas ao assunto, a empresa firmou uma parceria estratégica com a Broadcom para desenvolver e lançar seu próprio chip de IA.

O cronograma aponta para 2026 como o ano em que esses novos processadores começarão a operar. A iniciativa busca atender à demanda crescente por capacidade computacional e, principalmente, reduzir a dependência da gigante Nvidia. Para a OpenAI, ter seu próprio hardware significa otimizar a arquitetura para seus modelos específicos, controlando custos e garantindo uma cadeia de suprimentos mais estável. É como se um chef de cozinha decidisse cultivar seus próprios ingredientes para garantir a qualidade e o fornecimento do prato principal.

A escala dessa aposta é monumental. Durante uma teleconferência com analistas, o diretor-executivo da Broadcom, Hock Tan, mencionou ter conquistado um quarto grande cliente para sua divisão de chips personalizados de IA, com pedidos que somam impressionantes 10 bilhões de dólares. Embora o nome não tenha sido revelado oficialmente, as fontes ligadas ao projeto indicam que a OpenAI é a misteriosa compradora. Segundo essas informações, a intenção da OpenAI é utilizar os chips exclusivamente para suas operações internas, sem planos de comercializá-los para clientes externos, reforçando a ideia de uma infraestrutura verticalizada.

API de Currículos? OpenAI Mira o Território do LinkedIn

Se no hardware a OpenAI busca independência, no software a empresa mira a expansão para novos territórios. E o alvo da vez é o mercado de trabalho, um campo dominado há anos pelo LinkedIn. Segundo um anúncio de Fidji Simo, diretora de aplicações da OpenAI, a empresa está desenvolvendo uma plataforma de empregos.

A ideia é criar um ecossistema completo. Primeiro, os profissionais passariam por cursos de capacitação tecnológica na OpenAI Academy. Depois de certificados, eles poderiam criar e divulgar seus perfis profissionais na nova plataforma, conectando-se diretamente com as empresas. O projeto já nasce com peso, pois grandes companhias, como o Walmart, teriam aderido à iniciativa, mostrando o potencial de atração da plataforma.

Este movimento, no entanto, cria uma situação diplomaticamente delicada. A maior parceira e investidora da OpenAI é a Microsoft, que, por sua vez, é a dona do LinkedIn. Ao criar um concorrente direto para a principal plataforma de empregos do Ocidente, a OpenAI estabelece uma ponte para um novo mercado, mas ao mesmo tempo gera um potencial conflito de interesses com sua aliada mais importante. A Microsoft, até o momento, não comentou o assunto. Ainda não há um nome oficial ou data de lançamento para a plataforma, mas a intenção já está clara: a OpenAI não quer apenas ser a tecnologia por trás dos serviços, ela quer ser o próprio serviço.

Ecossistema ou Império? A Estratégia de Expansão

Analisando os dois movimentos em conjunto, a estratégia da OpenAI fica mais nítida. O desenvolvimento de um chip próprio e a criação de uma plataforma de empregos não são iniciativas isoladas. Elas representam os pilares de uma ambição maior: transformar a OpenAI de um laboratório de pesquisa de IA em um conglomerado de tecnologia autossuficiente.

De um lado, a empresa garante o controle sobre a camada mais fundamental de sua operação: o hardware. Isso lhe dará uma vantagem competitiva em performance e custo a longo prazo. Do outro, avança sobre a camada de aplicação, criando um produto final que conecta sua tecnologia diretamente a milhões de usuários e empresas, gerando novos fluxos de receita e dados. O diálogo entre diferentes tecnologias e plataformas, que sempre foi a base do ecossistema digital, parece estar sendo reescrito pela OpenAI, que agora busca não apenas conversar com os outros, mas controlar todo o diálogo, da infraestrutura de silício ao mercado de talentos humanos.