A Aritmética de um Quase Monopólio

Vivemos em uma era de escolhas aparentes, de prateleiras digitais repletas de opções. Mas o que acontece quando, ao olharmos mais de perto, quase todas as caixas contêm o mesmo matiz de verde? Um novo levantamento da Jon Peddie Research (JPR), uma das bússolas mais respeitadas do setor, revela um cenário de desequilíbrio profundo no universo das GPUs. A NVIDIA não apenas lidera; ela praticamente se tornou o próprio ecossistema, detendo agora 94% de participação de mercado.

Este número, por si só, é colossal. Representa um avanço de 2,1% apenas no primeiro trimestre de 2025, retirados diretamente de sua principal e, talvez, única concorrente. Ao longo dos últimos 12 meses, o avanço do 'Time Verde' foi ainda mais implacável, saltando de 88% para os atuais 94%. Nesse mesmo período, a AMD viu sua presença encolher para meros 6%, um valor que, segundo o relatório, é metade do que representava há um ano. E a Intel? Na fotografia atual deste mercado específico, ela sequer aparece, registrando 0%. Mas o que esses números realmente significam? Seria este o crepúsculo da competição ou apenas a calmaria antes de uma nova tempestade tecnológica?

O Paradoxo Vermelho: Inovação Contra a Maré

O mais fascinante nesta narrativa de domínio é que ela se desenrola em um contexto de forte inovação por parte da AMD. A série Radeon RX 9000 foi amplamente recebida como a melhor geração de GPUs já produzida pelo 'Time Vermelho'. Com avanços significativos, a empresa conseguiu desafiar a NVIDIA em seu território mais sagrado: o ray tracing. Além disso, introduziu pela primeira vez o FSR 4, sua tecnologia de upscaling via inteligência artificial, prometendo desempenho e qualidade visual aprimorados.

Então, como pode uma geração de produtos tão elogiada pela crítica resultar em uma retração de mercado? Parte da resposta pode estar nos desafios de produção que afetaram a oferta inicial de placas, um problema que, justiça seja feita, também atingiu a NVIDIA em seus lançamentos. Contudo, a situação da AMD levanta uma questão mais filosófica sobre o mercado de tecnologia. Estaríamos testemunhando um cenário onde a força da marca, o poder do marketing e a robustez de um ecossistema de software superam a inovação pontual de um produto? A excelência técnica, por si só, já não é suficiente para mover os ponteiros do poder?

Um Mercado Aquecido e Suas Contradições

Enquanto a balança pende drasticamente para um lado, o mercado como um todo está em plena expansão. Segundo os dados da JPR, o segundo trimestre de 2025 registrou o envio de 11,6 milhões de unidades de GPUs, um crescimento expressivo de 27% em relação ao trimestre anterior e de 22,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. O oceano está crescendo, mas quase toda a água flui para o mesmo império verde.

Jon Peddie, presidente da JPR, adiciona uma camada de complexidade ao cenário. Ele aponta para um comportamento de mercado “muito incomum para o segundo trimestre”, onde os preços das placas de vídeo de entrada e intermediárias caíram, enquanto os modelos de ponta ficaram mais caros e, ainda assim, desapareceram das prateleiras. Esse fenômeno sugere uma demanda voraz e uma dinâmica de preços que desafia as expectativas sazonais, pintando o retrato de um consumidor que busca poder de processamento a qualquer custo, fortalecendo ainda mais quem já está no topo.

O Futuro em Tons de Verde

O domínio da NVIDIA é, hoje, um fato consolidado pelos números. A empresa não apenas vende placas de vídeo; ela define o padrão, impulsiona o desenvolvimento de IA e molda o futuro do entretenimento digital e da computação de alta performance. A AMD, por sua vez, se encontra na posição desconfortável de ser uma alternativa excelente, mas numericamente minoritária, lutando por cada ponto percentual em um campo de jogo inclinado.

Enquanto o império verde se expande, resta a pergunta que ecoa nos circuitos de silício: em um jogo com um vencedor tão claro, quem define as regras para o futuro da inovação e dos preços? E nós, meros usuários, somos jogadores com livre arbítrio ou apenas peças neste tabuleiro cada vez mais monocromático? A resposta, talvez, só o tempo e o próximo relatório poderão nos dizer.