Mercado Livre adquire farmácia em SP e acende alerta no setor farmacêutico
O Mercado Livre, conhecido por conectar milhões de vendedores a compradores em toda a América Latina, acaba de dar um passo ousado e calculado em uma nova direção: o setor farmacêutico. A companhia argentina adquiriu a farmácia Target, localizada na zona sul de São Paulo, em uma operação que serve como pontapé inicial para um projeto-piloto de venda online de medicamentos sem necessidade de prescrição médica. A jogada, embora pareça pontual, já enviou ondas de choque pelo mercado, afetando diretamente o valor de gigantes estabelecidas.
A aquisição foi realizada através da K2I Intermediação, uma empresa de logística sob o guarda-chuva da Kangu, que por sua vez pertence ao Mercado Livre. Segundo informações divulgadas pelo jornal O Globo, a negociação foi feita com a startup Memed, antiga dona da Target e controlada pela DNA Capital, gestora que tem em seu portfólio a família Godoy Bueno, fundadora da Amil. Com a venda, a Memed, que é especializada em digitalização de receitas médicas, continuará focada em seu negócio principal, deixando a operação de varejo para o novo dono.
A Lógica por Trás da Compra: Desvendando a Estratégia
Para entender a decisão do Mercado Livre, é preciso analisar o cenário regulatório brasileiro. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impõe regras claras para a comercialização de medicamentos pela internet. A pergunta é: por que um gigante da logística precisaria de uma lojinha de bairro? A resposta está na burocracia. Se uma empresa quer vender medicamentos online, então ela precisa que o envio seja feito a partir de uma drogaria licenciada, e não de um centro de distribuição genérico. Senão, a operação é ilegal.
A compra da Target resolve exatamente essa questão. Ao possuir uma farmácia física, o Mercado Livre cumpre a exigência legal e ganha um ponto de partida para suas operações. As regras da Anvisa não param por aí:
- É obrigatório manter um farmacêutico disponível durante todo o período de funcionamento e vendas online.
- A venda de medicamentos controlados (os de tarja preta ou vermelha com retenção de receita) é estritamente proibida no ambiente digital.
- A transação deve ocorrer no site da própria farmácia.
A aquisição da Target funciona, portanto, como uma chave que abre a porta para um mercado bilionário. A intenção declarada é usar esta unidade como um laboratório para, posteriormente, expandir o modelo adquirindo outros estabelecimentos semelhantes em pontos estratégicos do país.
O Efeito Imediato: Pânico no Corredor das Gigantes
O mercado financeiro não esperou para ver os resultados do piloto. A simples notícia da entrada do Mercado Livre no setor foi suficiente para causar um verdadeiro estrago nas ações das principais redes de farmácias do Brasil. Assim que a informação veio a público, a RD Saúde, dona das bandeiras Raia e Drogasil, viu seu valor de mercado encolher em 7%. A rede Pague Menos também sentiu o golpe, com uma queda de 4% em suas ações.
A reação demonstra o peso do nome do Mercado Livre. Estamos falando de uma companhia que, em 2024, registrou uma receita de US$ 12,2 bilhões e possui uma base de 34 milhões de compradores ativos no Brasil. Colocar essa máquina de logística e vendas para competir no setor farmacêutico é um fator de disrupção. Para contextualizar a força dos players atuais, a RD Saúde, líder do setor, faturou R$ 41,8 bilhões no ano passado e detém 42% do market share digital, um segmento onde o Mercado Livre agora quer brigar por espaço.
Conclusão: Um Diagnóstico para o Futuro
A aquisição da farmácia Target pelo Mercado Livre é muito mais do que uma simples compra. É um movimento estratégico que sinaliza a intenção da empresa de aplicar sua expertise em logística e e-commerce para abocanhar uma fatia do crescente mercado de medicamentos sem receita, que avançou cerca de 12% em 2024. A lógica é implacável: se o consumidor já compra eletrônicos, roupas e alimentos pela plataforma, então por que não compraria também um analgésico ou um antigripal com a mesma conveniência de entrega rápida? O projeto-piloto em São Paulo servirá de termômetro para os próximos passos. A questão para as farmácias tradicionais não é mais se elas terão um novo concorrente de peso, mas quão rápido esse concorrente transformará a compra de um simples remédio em mais uma entrega express do Mercado Livre.
{{ comment.name }}
{{ comment.comment }}