Hyundai inaugura o 'patch as a service' e cobra por segurança
Em uma manobra que parece ter saído de um manual de monetização agressiva, a Hyundai está pedindo que proprietários do Ioniq 5 no Reino Unido abram a carteira para receber uma atualização de segurança. De acordo com informações divulgadas pelo portal Neowin, a montadora está cobrando 65 dólares, aproximadamente R$ 350 na cotação atual, por um patch que corrige uma vulnerabilidade grave. A falha permite que criminosos, utilizando um hardware específico de 20 mil dólares, consigam clonar a chave do veículo e simplesmente sair dirigindo. A justificativa da empresa para a cobrança, no entanto, é onde a lógica começa a fazer curvas perigosas.
A lógica da cobrança: um bug no argumento
Vamos dissecar o argumento da Hyundai, no melhor estilo true ou false. A empresa alega que o Ioniq 5 foi desenvolvido e certificado seguindo todos os padrões de segurança cibernética exigidos na época de seu lançamento. Se o carro cumpria as regras, então, na visão da montadora, sua responsabilidade inicial foi cumprida. O problema, segundo eles, é que a ameaça de roubo é um 'problema em evolução'. Portanto, a correção para essa nova ameaça seria um serviço adicional, e não a correção de uma falha de projeto. A empresa chega a afirmar que o valor cobrado pela atualização é 'subsidiado', como se estivesse fazendo um favor ao cliente.
Essa lógica é, no mínimo, questionável. Se um produto vendido possui uma vulnerabilidade que permite seu roubo, mesmo que por meio de uma técnica nova, a responsabilidade de corrigir essa brecha não deveria ser do fabricante? Ao classificar a atualização como 'opcional', a Hyundai efetivamente coloca a responsabilidade da segurança nas mãos do consumidor, criando um dilema: pague ou arrisque ter seu carro de luxo roubado.
Bem-vindo ao futuro das microtransações automotivas?
A decisão da Hyundai acende um alerta para uma tendência preocupante no setor automotivo e de tecnologia em geral: o 'Feature as a Service', ou, neste caso, 'Patch as a Service'. Estamos caminhando para um futuro onde a segurança básica de um produto se torna um item de assinatura? Imagine ter que pagar uma taxa extra para a Microsoft corrigir uma falha de segurança no Windows ou para a Apple garantir que seu iPhone não seja invadido. A situação do Ioniq 5 pode ser um balão de ensaio para ver até onde os consumidores aceitam pagar por algo que, tradicionalmente, sempre foi considerado parte da garantia e do suporte ao produto.
E o Ioniq 5 no Brasil?
O Hyundai Ioniq 5 também é comercializado no mercado brasileiro, o que naturalmente levanta a questão: essa cobrança chegará por aqui? Até o momento, a Hyundai do Brasil não se manifestou sobre o assunto. No entanto, a prática abre um precedente perigoso. Autoridades de defesa do consumidor no Brasil costumam ser rigorosas com questões de segurança e defeitos de fábrica, o que poderia gerar um embate jurídico interessante caso a empresa tente implementar uma política semelhante em território nacional. Fica a dúvida se a 'evolução' da ameaça também justifica a cobrança sob a legislação brasileira.
A polêmica está lançada e vai muito além de um simples patch de software. Ela toca no cerne da responsabilidade corporativa na era dos produtos conectados. Enquanto a Hyundai trata a segurança como um opcional subsidiado, consumidores e especialistas do mundo todo se perguntam qual será o próximo recurso básico a vir com uma etiqueta de preço. Os freios serão o próximo DLC pago?
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