A Melancolia da Eficiência: McKinsey Troca Humanos por Agentes de IA

Houve um tempo, não muito distante, em que as mentes mais brilhantes da consultoria desenhavam o futuro da automação para outras empresas. Elas eram as arquitetas da eficiência, as orquestradoras da disrupção. Mas o que acontece quando a canção da eficiência, que elas mesmas compuseram, é tocada em seus próprios salões? A McKinsey & Company, um pilar quase centenário do aconselhamento estratégico, está nos dando a resposta. Desde 2023, a empresa dispensou mais de 5.000 funcionários, reduzindo seu quadro de 45.000 para 40.000 pessoas. No lugar do silêncio deixado por esses profissionais, ecoa o zumbido de 12.000 novos 'colegas' que não tomam café nem fazem pausas: os agentes de Inteligência Artificial.

O Fantasma na Máquina Corporativa

A protagonista silenciosa desta transformação tem nome: Lilli. Lançada internamente em julho de 2023, Lilli é descrita pela própria McKinsey como uma 'colega de IA'. Alimentada com mais de um século de conhecimento proprietário da firma, ela não é um simples chatbot. Segundo os dados, Lilli já está integrada ao fluxo de trabalho de mais de 70% da equipe, recebendo mais de 500.000 comandos mensais. O resultado? Uma economia de aproximadamente 50.000 horas de trabalho de consultoria por mês. Tarefas que antes demandavam equipes de até 14 consultores, como análise de dados e elaboração de relatórios, agora são executadas por apenas duas ou três pessoas com o auxílio de seus assistentes digitais. Cada hora economizada, cada relatório gerado em segundos, parece ser um prego a mais no caixão do modelo de trabalho tradicional. É a eficiência em sua forma mais pura e, talvez, mais desoladora.

Quando o Conselheiro é o Algoritmo

A mudança não é apenas operacional, é existencial. Kate Smaje, sócia sênior que lidera os esforços de IA da McKinsey, admitiu em entrevista ao The Wall Street Journal que a questão é 'existencial' para a profissão, embora a veja como um 'bem existencial'. A firma está se reinventando de dentro para fora. O modelo de negócio, antes baseado em horas faturáveis, migra para arranjos baseados em resultados, com cerca de um quarto dos projetos já adotando essa modalidade. Além disso, a própria IA tornou-se um produto valioso. Conforme relatado, 40% da receita estimada de US$ 16 bilhões da McKinsey em 2024 virá de consultoria em IA e tecnologia. A empresa que vendia mapas para o futuro agora vende a própria bússola digital. Mas ao fazer isso, ela se pergunta: quem precisará do cartógrafo quando o mapa se desenha sozinho?

O Consultor do Amanhã: Sobrevivente ou Colaborador?

Então, qual é o destino do consultor de carne e osso? Bob Sternfels, sócio-diretor global da McKinsey, declarou ao Wall Street Journal que a empresa continuará a 'contratar agressivamente', mas também a 'construir agentes'. A visão é de um agente de IA para cada funcionário humano. O perfil do profissional desejado mudou. A capacidade de criar apresentações em PowerPoint e analisar dados massivos, antes um diferencial, agora é automatizada. O que resta? Sternfels aponta para habilidades que, por enquanto, permanecem unicamente humanas: liderança, persuasão e a complexa arte de navegar na política de um escritório. O consultor do futuro, segundo ele, precisará 'aprender a uma velocidade que nunca vimos' e colaborar de forma fluida com colegas humanos e de silício. Mas por quanto tempo essas habilidades serão nosso último reduto? Seriam elas a última fronteira antes da completa automação do pensamento estratégico?

Um Sinal para o Horizonte

A saga da McKinsey não é um evento isolado; é, como descreve a publicação The Finance Story, um 'sinalizador' para todo o ecossistema de consultoria. O impacto reverbera globalmente, pressionando firmas na Índia e em outros mercados a repensarem suas estratégias. Ironicamente, a lentidão das gigantes 'Big Four' em adotar a IA pode dar uma vantagem competitiva a empresas menores e mais ágeis. A questão levantada pelo The Wall Street Journal permanece no ar, assombrando não apenas consultores, mas todos os trabalhadores do conhecimento: 'Se a IA pode analisar informações, processar dados e entregar uma apresentação impecável em segundos, como o maior nome da consultoria se mantém relevante?'. A resposta que a McKinsey está formulando hoje pode ser o manual de sobrevivência, ou o epitáfio, para muitos de nós amanhã.