Oracle Demite na Nuvem para Financiar Aposta em IA

A Oracle, gigante da tecnologia, iniciou uma nova rodada de demissões que atingiu mais de 300 funcionários em seus escritórios na Califórnia e em Washington, com os cortes programados para entrar em vigor em outubro de 2025. A informação, baseada em documentos oficiais e apuração do site The Register, aponta para uma estratégia fria e calculada: enxugar as equipes da Oracle Cloud Infrastructure (OCI) para liberar capital e investir massivamente em hardware para Inteligência Artificial. Fontes internas sugerem que os números oficiais são apenas a ponta do iceberg, com demissões na casa dos milhares em escala global, especialmente na Índia.

A Lógica Fria dos Números: OCI na Berlinda

Os cortes se concentram na divisão de nuvem da Oracle, a OCI, que oferece produtos de infraestrutura e plataforma como serviço. Segundo uma fonte anônima familiarizada com o assunto e ouvida pelo The Register, o moral da equipe já estava baixo devido a demissões discretas ocorridas em março. O motivo para a reestruturação parece ser puramente financeiro e estratégico. Aparentemente, a Oracle não está conseguindo fazer a conta fechar em vários de seus serviços de nuvem tradicionais.

A fonte citou um exemplo emblemático: um serviço específico dentro da OCI que, apesar de contar com uma equipe de mais de cem desenvolvedores, gerava receita anual suficiente para pagar o salário de apenas um ou dois deles. Se uma operação consome recursos para cem funcionários e retorna o valor de dois, então a conclusão lógica é que a operação é insustentável. Para a Oracle, a solução foi simples: cortar a operação.

Essa movimentação indica que a empresa está fazendo uma aposta clara. Em vez de continuar sustentando áreas com baixo retorno, a decisão foi redirecionar esses fundos para o que é visto como o futuro do faturamento: a infraestrutura de IA. Não se trata, portanto, de uma otimização de rotina, mas de um pivô estratégico radical financiado com o corte de pessoal.

A Realidade Alternativa de Larry Ellison

Enquanto a tesoura corta postos de trabalho na OCI, o discurso oficial da Oracle soa como se viesse de um universo paralelo. Em junho, durante a divulgação dos resultados do quarto trimestre, o presidente e CTO da empresa, Larry Ellison, pintou um quadro extremamente otimista. “A receita geral de consumo da Oracle Cloud Infrastructure cresceu 62% no quarto trimestre”, afirmou Ellison em comunicado. Ele ainda projetou que a empresa espera que essa receita cresça “ainda mais rápido no ano fiscal de 2026”.

A discrepância entre o discurso público e as ações internas é evidente. Se a OCI está crescendo a taxas “vertiginosas”, como diz o comunicado, então por que as demissões estão concentradas justamente nela? A análise lógica sugere que o crescimento reportado pode estar sendo impulsionado por um único e poderoso motor: a alta demanda por hardware de IA, e não pelo portfólio de serviços de nuvem tradicionais da Oracle. Basicamente, o sucesso atual da OCI não viria de sua plataforma, mas de sua capacidade de alugar poder de processamento para terceiros.

A Troca: Humanos por Silício de IA

A fonte do The Register foi categórica ao desmistificar a narrativa de que “a IA está roubando empregos”. O que está acontecendo na Oracle é diferente. “Honestamente, é tudo sobre o capex de IA”, disse a fonte, referindo-se aos gigantescos gastos de capital (capex) que os provedores de nuvem estão fazendo para construir datacenters para cargas de trabalho de Inteligência Artificial.

A Oracle fez uma aposta certeira ao adquirir uma grande quantidade de hardware de IA no início da corrida, o que a tornou uma fornecedora atrativa para clientes com demandas massivas, como o TikTok. “A única razão pela qual somos bem-sucedidos agora é por causa da ascensão da IA”, complementou a fonte. Em outras palavras, a Oracle não está na vanguarda da criação de produtos de IA, mas sim atuando como uma grande locadora de infraestrutura para quem realmente os desenvolve.

Portanto, a demissão de centenas ou milhares de funcionários não é para substituir suas tarefas por um algoritmo. É para pegar o dinheiro que seria usado para pagar seus salários e investir na compra de mais e mais GPUs e outros componentes caros. É uma troca direta de capital humano por capital de silício.

A reestruturação da Oracle sinaliza uma tendência brutal no mercado de tecnologia. A corrida pela dominância em IA exige investimentos colossais, e as empresas estão dispostas a canibalizar suas próprias divisões menos lucrativas para financiar essa jornada. Para os profissionais da área de nuvem tradicional, o recado é claro: a estabilidade de seus empregos pode depender diretamente da capacidade de sua equipe gerar a mesma receita que um rack de servidores de última geração.