Reviravolta na IBM: Quando a Automação com IA Gera Oportunidades

A IBM, um dos gigantes do setor de tecnologia, protagonizou uma verdadeira reviravolta no início de 2023. Em uma estratégia ousada e inspirada pelas recentes ondas de demissões em massa em empresas globais, a companhia optou por demitir aproximadamente 8 mil funcionários para substituir determinadas funções pela inteligência artificial. Mas, surpreendentemente, essa iniciativa resultou não apenas na otimização dos processos internos, mas também na recontratação de um número equivalente de colaboradores, evidenciando que a automação pode, na verdade, abrir novas portas para a contratação de profissionais qualificados.

O CEO da IBM, Arvind Krishna, destacou, em entrevista ao The Wall Street Journal, que apesar das demissões terem sido um passo estratégico para alavancar a IA e a automação, o efetivo total da empresa cresceu. Segundo Krishna, a economia gerada a partir da automação possibilitou o investimento em outras áreas, como engenharia de software, vendas e marketing, trazendo um novo fôlego de inovação dentro da companhia. Essa evolução, ainda que carregada de ironia, demonstra que o processo de inovação nem sempre é linear e que a introdução de tecnologias disruptivas pode exigir ajustes inesperados na estrutura de pessoal.

Transformação Digital e Automação no Setor de RH

Um dos destaques desta transformação foi o uso intensivo do AskHR, uma solução de inteligência artificial desenvolvida a partir de 2021 e utilizada para automatizar processos tradicionais de recursos humanos. Com mais de três anos de atuação, o AskHR tornou-se um assistente digital robusto, capaz de gerenciar tarefas administrativas como folha de pagamento, documentação de funcionários e gestão de férias, liberando os profissionais de RH para atividades estratégicas.

De acordo com informações divulgadas no site oficial da IBM, a ferramenta automatiza impressionantes 94% das tarefas rotineiras, proporcionando uma economia significativa em recursos humanos. Nos últimos anos, essa mudança gerou melhorias de produtividade avaliadas em cerca de US$ 3,5 bilhões, distribuídas por mais de 70 áreas de negócio. Tais números não apenas reforçam a eficiência do processo, mas também evidenciam como a inteligência artificial pode transformar o dia a dia das corporações, inclusive impactando decisões de contratação e reestruturação.

Em meio a essa revolução, o AskHR passou por diversas atualizações. Em 2024, a plataforma processou mais de 11,5 milhões de interações, sendo capaz de resolver 94% das demandas de RH internamente, sem a necessidade de recorrer a parceiros externos. Esse desempenho impressionante elevou o Net Promoter Score (NPS) da solução, que saltou de -35 para +74, refletindo a evolução da tecnologia e a satisfação dos usuários internos com o novo sistema. Com quase 90 automações incorporadas e outras a caminho, a plataforma não só acelerou processos, mas também garantiu uma performance 75% mais rápida nas transações de RH.

O Impacto da Automação no Mercado de Trabalho

A estratégia adotada pela IBM ressoa com as tendências globais observadas no setor de tecnologia. Enquanto empresas como Google, X e Spotify reduziram significativamente seus quadros de funcionários, a IBM apostou em uma reformulação que combinava demissões e novas contratações. Essa abordagem reflete uma tentativa de otimizar os investimentos, utilizando a inteligência artificial para agilizar processos, mas sem abrir mão do talento humano nas áreas que realmente exigem a criatividade e a compreensão humana.

Em comparação com outros movimentos do mercado, a iniciativa da IBM ganha contornos ainda mais interessantes. Enquanto algumas organizações já dispensam até 90% dos departamentos de atendimento ao cliente para dar lugar a chatbots, a IBM demonstra que a automação pode ser uma ferramenta de reestruturação e crescimento, e não somente de redução de custos. O caso do Duolingo, por exemplo, mostra que a substituição completa dos recursos humanos pode resultar em falhas, levando esses profissionais a buscar novas oportunidades, como a transição para áreas de TI, evidenciando a necessidade de um equilíbrio entre tecnologia e mão de obra qualificada.

Essas mudanças ocorrem em um contexto onde o debate sobre o futuro do trabalho está cada vez mais presente. O "The Future of Jobs Report 2025", do Fórum Econômico Mundial, projeta que até 2030 a automação destrua cerca de 92 milhões de empregos globalmente. No entanto, a realidade brasileira também observa essas transformações, onde tanto grandes corporações quanto pequenos negócios têm buscado maneiras de conciliar o uso de tecnologias avançadas com a preservação e criação de empregos. Esse cenário desafiador e, ao mesmo tempo, inovador, força organizações a repensarem seus modelos de gestão e investimento nas áreas de conhecimento e inovação.

Para a IBM, a evolução tecnológica não é um fim, mas sim um meio para reorientar seus recursos e potenciar áreas estratégicas que exigem uma abordagem mais humana. Por essa razão, a gradativa reintegração de profissionais em setores essenciais mostra como a combinação de automação e talento humano pode ser uma alavanca para o crescimento e a inovação. Essa história, que inicialmente parecia apontar para uma redução significativa na força de trabalho, acabou se transformando em um exemplo de como a transformação digital pode gerar um novo ciclo de contratações e investimentos em treinamento e desenvolvimento de equipes.

A estratégia da IBM reflete também uma mudança de mentalidade no mercado de trabalho global, onde a substituição de funções repetitivas por sistemas automatizados cria espaço para que os colaboradores se dediquem a atividades mais estratégicas e desafiadoras. Nesse cenário, a liderança da empresa se mostrou aberta a experimentar novos modelos de gestão, que conciliam eficiência operacional com a necessidade de investimento em capital humano. Arvind Krishna, cujo discurso inspirou a sociedade e os profissionais de tecnologia, destacou que esse investimento em inovação não só estabiliza a empresa no curto prazo, mas também constrói as bases para um futuro mais dinâmico e adaptável.

A volta dos contratados serve como um alerta para empresas de todos os tamanhos que pretendem seguir o mesmo caminho: a adoção de inteligência artificial e automação deve ser feita de forma equilibrada, alinhada com estratégias que valorizem o potencial humano. Se no início os cortes foram vistos como um passo radical rumo à eficiência, a recontratação em massa indica que, ao menos por enquanto, a interação entre humanos e máquinas ainda necessita de uma colaboração mútua para alcançar resultados sustentáveis.

Além disso, é importante destacar que a estratégia da IBM vem sendo acompanhada de perto não só pelos especialistas em tecnologia, mas também pela imprensa internacional e pelo setor financeiro. Esse acompanhamento revela que, apesar dos riscos e desafios inerentes à implementação de novas tecnologias, as empresas que investem na integração equilibrada entre automação e mão de obra humana podem obter resultados expressivos em termos de produtividade e inovação. O exemplo da IBM pode servir de inspiração para outros players do mercado, que buscam soluções para manter a competitividade em um mundo cada vez mais automatizado, sem abrir mão da criatividade e da inteligência dos profissionais.

Em resumo, a surpreendente história da IBM, que demitiu e depois recontratou um número expressivo de funcionários, ilustra perfeitamente os dilemas e oportunidades vivenciados pelas corporações na era digital. À medida que a inteligência artificial avança e se torna parte integrante dos processos empresariais, fica claro que o futuro dos empregos não está na completa substituição humana, mas em um equilíbrio cuidadosamente planejado entre tecnologia e talento. Com essa abordagem, a IBM não apenas se adapta às tendências globais, mas também oferece um exemplo concreto de como a inovação pode, paradoxalmente, resultar em mais oportunidades de trabalho e crescimento econômico.